Resumo

Doenças de pele negligenciadas, como hanseníase, leishmaniose cutânea, esporotricose, micoses profundas e outras infecções de origem fúngica ou bacteriana, ainda afetam milhões de pessoas no Brasil e no mundo, segundo o Ministério da Saúde. Além do sofrimento físico, os pacientes enfrentam estigmas, preconceito e limitações na vida social e profissional. O diagnóstico costuma ser difícil, seja pela semelhança entre os sintomas ou pela falta de exames e capacitação profissional. 

Diante desse cenário, o CUTIS-AI busca desenvolver soluções com apoio da inteligência artificial para facilitar e agilizar o diagnóstico dessas doenças de pele negligenciadas, especialmente em regiões com poucos recursos. A proposta inclui a criação de ferramentas tecnológicas que ajudem profissionais da saúde a identificar sinais visuais das doenças e a tomarem decisões mais assertivas, mesmo à distância. Também serão estudados os microrganismos presentes nas lesões para entender melhor o comportamento das doenças e pensar em novas estratégias de tratamento. 

Com essa iniciativa, espera-se reduzir o tempo entre o surgimento dos sintomas e o início do tratamento, evitar sequelas e mortes, e diminuir o estigma em torno dessas doenças. O projeto está alinhado ao Plano Nacional de Saúde e pretende ampliar o acesso à saúde, promover equidade no atendimento e dar visibilidade a condições que, apesar de comuns em algumas regiões, ainda são invisíveis para a maior parte da sociedade e dos gestores públicos. Trata-se de uma ação estratégica para transformar realidades negligenciadas com tecnologia, empatia e informação. 


Introdução

As principais doenças de pele negligenciadas – como a leishmaniose cutânea, a hanseníase e micoses profundas, incluindo micetoma, cromoblastomicose e lobomicose - acometem a pele com sintomas que variam desde coceira até alterações na cor e textura. Além das manifestações físicas, essas doenças frequentemente geram sentimentos de isolamento e estigmatização, impactando negativamente o bem-estar pessoal e social dos indivíduos afetados. 

A leishmaniose, por exemplo, é um grupo de doenças causadas por protozoários transmitidos principalmente pela picada do mosquitos-palha. Uma de suas manifestações mais comuns é a leishmaniose cutânea, caracterizada pelo surgimento de lesões na pele. Essas lesões, geralmente indolores, apresentam aspecto ulcerado e podem variar em quantidade, tamanho e localização. O diagnóstico é feito com base nos sintomas clínicos, histórico do paciente e exames laboratoriais, e o tratamento geralmente envolve o uso de medicamentos administrados por via oral e/ou intravenosa, conforme a gravidade do caso. 

Estima-se que a leishmaniose cutânea esteja presente em quase 90 países, afetando milhões de pessoas. No Brasil, são registrados cerca de 14 mil casos por ano, com alta incidência principalmente na região Norte, onde fatores como longas distâncias, baixa densidade populacional e falta de estrutura dificultam o acesso ao diagnóstico e tratamento. 

A hanseníase, por sua vez, é causada por uma bactéria e pode ser transmitida pelo contato direto e prolongado com uma pessoa doente que ainda não foi tratada. As principais vias de transmissão envolvem as mucosas das vias aéreas superiores, como a nasal e a orofaríngea. No entanto, a transmissão também pode ocorrer por meio de lesões cutâneas, especialmente em contextos de contato direto com secreções ou material contaminado. Os sintomas e a gravidade variam de acordo com a resposta do organismo da pessoa infectada. O período entre o contágio e o aparecimento dos sintomas pode levar anos. A hanseníase ainda é uma das principais causas de incapacidade física evitável no mundo, especialmente em populações mais vulneráveis. 

Já a tuberculose, que também é uma doença infecciosa, atinge principalmente os pulmões, mas pode afetar outros órgãos, inclusive se manifestar por meio de lesões cutâneas. Ainda hoje, milhões de pessoas ficam doentes com tuberculose a cada ano, e a doença segue como uma das que mais matam no mundo. No Brasil, a meta é curar pelo menos 77% dos casos, mas o número atual ainda está abaixo disso. O país assumiu o compromisso de eliminar a tuberculose como problema de saúde pública até 2030. 

A esporotricose é uma infecção causada por fungos encontrados em ambientes úmidos e quentes, como solo e vegetação em decomposição. A transmissão geralmente ocorre por meio de arranhões ou mordidas de gatos infectados ou pelo contato direto com o fungo. A doença tem crescido no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, e está relacionada à falta de infraestrutura e ao grande número de animais abandonados. 

A cromoblastomicose é uma infecção fúngica crônica da pele, causada por fungos que entram no corpo através de ferimentos, principalmente em trabalhadores rurais. É mais comum em regiões tropicais e afeta principalmente braços, pernas e outras partes expostas do corpo. Já a lobomicose é uma doença mais rara, mas também causada por um fungo, e provoca lesões na pele, que podem se espalhar e comprometer extensas áreas do corpo. Ambas são difíceis de tratar e muitas vezes não são notificadas oficialmente, o que dificulta o acompanhamento e o controle dessas patologias. 

Essas doenças impactam diretamente a vida social e emocional das pessoas, que muitas vezes têm dificuldade para conseguir atendimento adequado. A pele, sendo a parte mais visível do corpo, costuma ser o primeiro sinal de alerta durante uma consulta médica. No entanto, o diagnóstico nem sempre é fácil, por falta de estrutura, exames adequados ou profissionais especializados. 

Outro problema de saúde pública são os acidentes com animais peçonhentos, como aranhas, escorpiões e cobras, especialmente em áreas urbanas, e podem causar consequências locais ou sistêmicas, temporárias ou permanentes ao indivíduo.  Especificamente as picadas de aranha apresentam manifestações clínicas variáveis, dependendo da espécie e da resposta individual do paciente, a lesão pode iniciar com eritema leve e, em casos mais graves, evoluir para necrose com centro escurecido. O diagnóstico de acidentes loxoscélicos é eminentemente clínico-epidemiológico, já que não há exames laboratoriais específicos e a picada, na maioria das vezes, passa despercebida. Além disso, diversas dermatoses podem ser erroneamente atribuídas a esse tipo de acidente, dificultando o diagnóstico preciso. 

Nesse cenário, a inteligência artificial vem se apresentado como uma aliada importante. Ela pode ajudar os profissionais de saúde a identificar essas doenças de forma mais rápida e precisa, principalmente em locais com poucos recursos. Aplicativos e outras ferramentas digitais estão sendo desenvolvidos com esse objetivo, permitindo que médicos e enfermeiros tenham acesso a informações e imagens que os ajudem a tomar decisões melhores para o tratamento. 

Além disso, estudos sobre a presença de bactérias e outros microrganismos nas lesões dessas doenças podem ajudar a entender melhor como elas funcionam e a encontrar formas mais eficazes de tratá-las. 

Esse projeto está alinhado com as metas do Plano Nacional de Saúde, que busca melhorar o acesso da população aos serviços de saúde. A ideia é promover diagnósticos mais rápidos, ampliar o alcance das ações de prevenção e dar mais visibilidade a essas doenças. O projeto também quer chamar atenção de profissionais da saúde e da população em geral para a importância de reconhecer e tratar essas doenças o quanto antes, ajudando a evitar complicações. 

O objetivo principal do projeto é desenvolver, testar e validar, em um aplicativo para dispositivos móveis, um ou mais modelos de inteligência artificial capazes de apoiar a triagem diagnóstica de doenças negligenciadas a partir de imagens clínicas de lesões de pele, visando à suspeição dessas enfermidades:

  • Leishmaniose Cutânea; 
  • Hanseníase; 
  • Tuberculose Cutânea; 
  • Esporotricose; 
  • Cromoblastomicose; 
  • Lobomicose; 
  • Acidentes loxoscélicos (picada de aranha marrom). 

  • Métodos

    1) Criação do banco de imagens padronizados pela técnica de referência 

    Nesta fase, será feita uma coleta de imagens de lesões de pele, dados clínicos e ambientais, que servirão como base para o estudo. Tudo isso será reunido em um banco de dados padronizado, com a ajuda de profissionais especializados. 

    2) Desenvolvimento dos modelos de inteligência artificial e do aplicativo 

    Com esse material em mãos, será possível desenvolver modelos de inteligência artificial capazes de reconhecer e classificar diferentes tipos de lesões de pele. Junto com isso, será criado um aplicativo que funcione com esses modelos, permitindo que profissionais da saúde usem a tecnologia para facilitar o diagnóstico, mesmo em locais com poucos recursos. 

    3) Teste da ferramenta em nível nacional 

    Se os resultados forem positivos — ou seja, se o aplicativo se mostrar útil, seguro e eficiente —, será desenvolvido um protocolo para realizar um estudo mais amplo, chamado de ensaio clínico com objetivo de incorporar o aplicativo na rotina clínica.

    Resultados esperados 

    Ao final do projeto, espera-se entregar relatórios técnicos com os principais achados e modelos de inteligência artificial que ajudem a identificar doenças como leishmaniose cutânea, hanseníase, tuberculose cutânea, acidentes com aranha-marrom e esporotricose. Tudo isso com o objetivo de facilitar o diagnóstico e o tratamento dessas doenças, promovendo mais acesso, agilidade e qualidade no atendimento à população. 


    Equipe

    • Hospital Israelita Albert Einstein





    Indicadores

    7
    Quantidade de profissionais
    envolvidos em pesquisa

    Abrangência

    • São Paulo

      • São Paulo

        hospital israelita albert einstein

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