Doação de parte do fígado salvou a vida de 72 crianças em 2020: Conheça a história de Júlia Franchini e Maísa Kivia, pacientes do projeto TransPlantar

Doação de parte do fígado salvou a vida de 72 crianças em 2020: Conheça a história de Júlia Franchini e Maísa Kivia, pacientes do projeto TransPlantar Doação de parte do fígado salvou a vida de 72 crianças em 2020: Conheça a história de Júlia Franchini e Maísa Kivia, pacientes do projeto TransPlantar

O projeto "TransPlantar", conduzido pelo Hospital Sírio-Libanês via PROADI-SUS, em parceria com o Ministério da Saúde, é responsável por realizar, de maneira gratuita, transplantes pediátricos de fígado e intestino, reabilitação intestinal pediátrica e intervenções cardíacas a pacientes do SUS em todo o país. A iniciativa é responsável por cerca de 40% dos transplantes pediátricos no Brasil - em 2020, salvou a vida de 72 crianças -, além de dar apoio às etapas do processo de reabilitação intestinal a esses pacientes.

A pequena Júlia Franchini, de apenas um ano e meio, comemorou um ano de seu transplante de fígado em maio de 2021, realizado pelo programa. Com dois meses de vida, a menina começou a apresentar pele amarelada e logo precisou de internação. A família de Santos, litoral de São Paulo, buscou atendimento para a criança no Hospital Menino Jesus, parceiro do Hospital Sírio-Libanês, onde tiveram o primeiro contato com o projeto. Sua tia – e madrinha –, Vitória Franchini, de 22 anos, se ofereceu para ser doadora assim que seu cunhado, pai de Júlia, precisou interromper os exames para o transplante após ser diagnosticado com tuberculose, o impossibilitando de realizar a operação. 

Para Vitória, a cirurgia foi rápida e sem complicações. A de Júlia, no entanto, teve cerca de oito horas de duração, o que angustiou toda a família, que ansiava por notícias fora da sala de cirurgia. Apesar do sucesso do procedimento, a menina precisou permanecer internada por mais um mês após complicações do pós-operatório, além de algumas semanas por ter sido diagnosticada com o COVID-19. 

Mesmo com o susto, dois meses depois, Júlia estava em casa e muito saudável. "A gente tinha muito medo no início, porque ela era muito nova, mas começou a engatinhar logo depois que chegou em casa e não teve nenhuma sequela. Hoje, ela é um bebê completamente saudável. A rapidez da mudança do corpo dela foi nítida, quando ela recebeu o fígado saudável parecia que tinha virado uma chavinha. Ela estava inchada e amarela, era muito ruim olhar, dava vontade de chorar. A gente não podia pegá-la no colo. E, então, ela parecia totalmente saudável, que tinha acabado de nascer. É muito gratificante viver isso", conta Vitória. 

O caso de Maísa Kivia é similar ao de Júlia, porque a menina também começou a apresentar uma tonalidade amarelada em sua pele desde muito cedo. Em seu terceiro mês de vida, Maísa foi diagnosticada com atresia de vias biliares1 – doença que acomete o fígado e ductos biliares em recém-nascidos, acumulando bile no fígado, podendo levar à lesão hepática irreversível – o que fez a família conhecesse o projeto TransPlantar. Alba, mãe de Maísa, conta que sua filha foi encaminhada ao Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante do Hospital Menino Jesus/ Hospital Sírio-Libanês, para iniciar seu tratamento pelo projeto. 

O quadro de Maísa foi se intensificando, e quando constatada a necessidade do transplante, o pai da criança se candidatou imediatamente para doar uma parte de seu fígado à filha. No entanto, todo o processo foi interrompido após a detecção de um tumor, o que impossibilitava a execução da cirurgia. Sem sucesso na busca de um doador compatível na família, e o quadro clínico da menina agravando-se ainda mais, Kivia iniciou a campanha #todospelamaisa nas redes sociais, a fim de encontrar um doador para sua filha.

Sensibilizada pela causa, Bruna, filha de uma amiga de Kivia, se disponibilizou para ir até São Paulo realizar os exames para a doação e, em menos de 30 dias, o transplante foi realizado.

"O transplante foi autorizado em quatro dias, mas, nesse intervalo, a Maísa teve mais uma piora e precisou ficar internada por cinco dias sendo alimentada por sonda. Ela era uma bomba relógio, tudo poderia acontecer a qualquer momento. Quando a cirurgia foi realizada, ela tinha apenas 1% do fígado funcionando. Cheguei a pensar que poderia iria perder a minha filha, mas hoje é outra criança", relata a mãe, emocionada. Hoje, Maísa está com 11 meses e espera a liberação de alguns documentos para voltar para casa da família em Catalão, interior de Goiás. 

Não estou vivendo um luto hoje, porque alguém se entregou para poder salvar uma vida em um ato de amor. Não mudou só a minha, como a de milhares de pessoas que esperaram e ainda esperam por uma oportunidade assim, de ter a vida de um familiar salvo. Não temos muita noção do quanto é importante a doação. Quero conscientizar a quem eu puder sobre a importância de ser doador e dispor às famílias para a doação também. As pessoas precisam saber: a situação é grave, mas que pode e deve ser cuidada, doe.

Setembro Verde:

As histórias de Júlia e Maísa fazem parte dos 89.558 transplantes realizados no Brasil nos últimos dez anos e dos 3.195 só do primeiro semestre de 2021 - dados do Registro Brasileiro de Transplantes da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO)2. Ainda de acordo com a ABTO, em dezembro de 2020, o país contava com 43.643 pessoas aguardando o surgimento de um doador para passar pelo procedimento. 

Do total de potenciais doações, cerca de 40% não têm autorização da família, e outros 10% são perdidos por falhas no manejo clínico do paciente em morte encefálica. Neste contexto, a campanha Setembro Verde tem como objetivo sensibilizar a população para se declarar doadora de órgãos e tecidos. Para ser um potencial doador, não é necessário deixar algo por escrito, mas é fundamental comunicar o desejo, visto que, em casos de morte encefálica, é a família quem toma a decisão final.


O projeto TransPlantar:

A iniciativa TransPlantar dá apoio em todas as etapas do processo de identificação, diagnóstico e tratamento das hepatopatias pediátricas e falência intestinal, realizando transplantes de fígado e intestino, bem como a  reabilitação intestinal. O projeto entrega cuidado de excelência com elevado rigor técnico e ainda mais alto cuidado humano e social.  

Além da assistência, o projeto também promove qualificações de profissionais no SUS e realiza intervenções cardíacas. O Hospital Sírio-Libanês é líder em transplante de fígado pediátrico e intervivos no Brasil, além de ter uma das maiores casuísticas mundiais em transplante de fígado em crianças. O Hospital, ainda, é a única instituição no Brasil a fazer “transplante dominó” de fígado pediátrico para crianças portadoras de leucinose. Por fim, a iniciativa é responsável por quase 40% dos transplantes pediátricos no país e, no último ano, capacitou seis instituições; treinou 52 profissionais; realizou 72 transplantes pediátricos de fígado; dois procedimentos cardíacos; e três implantes de dispositivo de longa permanência.

Referências: 



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