O transtorno do espectro autista (TEA) está relacionado ao desenvolvimento infantil e é caracterizado por deficiências persistentes na interação social e pela presença de padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses ou atividades1. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), existe hoje uma em cada 160 crianças no mundo com TEA e, no Brasil, estima-se cerca de 2 milhões de casos segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (em inglês: Centers for Disease Control and Prevention).
Apesar da numerosa incidência, essa parcela da população, em sua maioria, ainda sofre com a demora da identificação do TEA e possibilidade de acompanhamento dos casos e prognóstico.
Para promover a qualificação de profissionais do Sistema Único de Saúde para o rastreamento e intervenção precoce do TEA, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS, o Hospital Moinhos de Vento, em parceria com o Ministério da Saúde, oferece cursos na modalidade EaD para identificação precoce a profissionais da saúde e demais interessados na temática e de intervenção precoce a 5 Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (CAPSi)/ Centros Especializados em Reabilitação (CER) em todas as regiões do país. Até 2023, três mil profissionais da saúde serão selecionados e tutorados por especialistas do programa.
O projeto é realizado em parceria com a Associação para Educação, Esporte, Empreendedorismo e Direitos dos Pacientes com Divisão de Reabilitação do Hospital das Clínicas de São Paulo e o Instituto Ico Projetc de Curitiba (PR), instituições que irão fornecer auxílio à capacitação e formulação de materiais didáticos ao decorrer das tutorias.
A dra. Renata Kochhann, líder operacional do projeto, explica que a capacitação desses profissionais é essencial para o acompanhamento dos casos e melhoria da qualidade de vida das crianças: “Em muito dos casos, a criança só é diagnosticada com o TEA quando inicia a sua vida acadêmica – o que é muito tarde. Os profissionais da atenção básica em saúde se encontram em uma posição privilegiada para a identificação precoce desses quadros, possibilitando o encaminhamento e oferta de tratamento em momentos em que há maior probabilidade de resposta terapêutica, favorecendo o desenvolvimento saudável na infância, melhorando a interação social e desempenho educacional”.
O psiquiatra Dr. Thiago Rocha, idealizador e responsável técnico do projeto, ressalta a importância da iniciativa para as famílias de crianças com diagnóstico de TEA: “Sabemos que o diagnóstico de TEA pode ter um impacto muito intenso sobre as famílias. Oferecer uma rede assistencial mais qualificada possibilita melhor capacidade de apoio, orientação e atendimento a essas crianças e seus familiares, potencializando as chances de melhores resultados para as intervenções terapêuticas.”
Além dos profissionais da saúde, professores, profissionais do serviço social, responsáveis e cuidadores, também receberão materiais didáticos e informativos a fim de instruí-los sobre os cuidados e necessidades das crianças diagnosticadas com TEA. Após a conclusão da iniciativa, ainda, serão formuladas e entregues novas diretrizes assistenciais para o sistema de saúde, visando a promoção de boas práticas e cuidado integral para as crianças com TEA e suas famílias.
A importância do acompanhamento dos casos:
Apesar de ter seu início na infância, o TEA tende a persistir na adolescência e na idade adulta. Embora algumas pessoas com a condição possam viver de forma independente, outras têm graves incapacidades e necessitam de cuidados e apoio ao longo de toda sua vida, o que torna essencial as intervenções e treinamentos de habilidades para os pais e cuidadores, que podem reduzir as dificuldades de comunicação e comportamento social, impactando na qualidade de vida e bem-estar das pessoas com TEA.
As intervenções são essenciais para a construção de ambientes físicos, sociais e atitudinais mais acessíveis, inclusivos e de apoio. O acesso aos serviços de assistência são fundamentais para o combate à estigmatização, discriminação e violações de direitos humanos que, por vezes, as pessoas com TEA são sujeitas a enfrentar2.
Referências: