Dados demonstram que cerca de 30 a 40% dos pacientes com câncer de próstata localizado não precisam realizar tratamento intervencionista imediato (cirurgia, radioterapia e/ou hormonioterapia) por não apresentarem risco de progressão da doença. Múltiplos países instituem programas de Vigilância Ativa (VA), de forma a adiar, ao máximo possível, o tratamento ativo e, com isso, alocar melhor os recursos de saúde e diminuir o risco de eventos adversos e sequelas das terapias, como disfunção erétil, incontinência urinária e sequelas intestinais
No Brasil, o câncer de próstata é a neoplasia mais comum em homens, ocupando a segunda posição entre os tipos mais frequentes de câncer. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se que 71.730 novos casos sejam diagnosticados entre 2023 a 2025. Segundo a National Comprehensive Cancer Network, organização americana sem fins lucrativos, mesmo realizando tratamento ativo com cirurgia e/ou radioterapia (associado ou não à hormonioterapia), um percentual de pacientes acaba evoluindo com recorrência bioquímica (quando o tumor volta), doença metastática e/ou morte. Por outro lado, muitos pacientes que não realizam intervenção acabam evoluindo bem, sem aumento de PSA e sem progressão da doença.
Devido a esse comportamento, diferentes critérios clínicos (toque retal), anatomopatológicos (Escore de Gleason/ISUP) e laboratoriais (níveis de PSA) são utilizados para classificar os pacientes em diferentes grupos prognósticos: risco favorável, risco intermediário e risco desfavorável. Pacientes com escore de risco favorável são aqueles com PSA menor do que 10 ng/mL, escore de Gleason 3+3 (ISUP 1) e toque retal sem anormalidades.
Apesar de variar um pouco em relação à periodicidade dos exames, de maneira geral, os protocolos de VA acompanham os pacientes com exame de PSA e toque retal semestralmente e biópsia prostática anualmente, alguns incorporando anualmente a ressonância nuclear magnética multiparamétrica da próstata. Quando há mudança no padrão dos exames sugerindo progressão da doença, especialmente com aumento do escore de Gleason na biópsia, o paciente é encaminhado para tratamento curativo, seja com cirurgia ou com radioterapia, sem perda das chances de cura do paciente. Estudos de coorte internacionais e estudos randomizados demonstraram que, em 10 anos, apenas 40 a 50% dos pacientes necessitarão de intervenção ativa em seu câncer.
No Brasil, há uma escassez de dados que demonstrem o uso sistematizado da estratégia de Vigilância Ativa (VA) no SUS para pacientes com câncer de próstata de risco favorável. Em contrapartida, a maioria dos países desenvolvidos já incorporou essa abordagem em seus sistemas de saúde, buscando maximizar a eficiência, reduzir custos, filas para cirurgias e/ou radioterapia, além de minimizar eventos adversos e sequelas dos tratamentos. Implementar um programa nacional de VA para pacientes com câncer de próstata de risco favorável diagnosticados no SUS pode qualificar ainda mais o cuidado prestado, ao mesmo tempo em que otimiza a alocação de recursos no sistema de saúde.
Para tanto, será conduzido um estudo de coorte nacional com essa população, utilizando o protocolo assistencial desenvolvido no projeto. Caso os resultados sejam positivos, essa estratégia poderá ser escalonada para centros de referência em todo o país, beneficiando não apenas os pacientes diretamente afetados, mas também proporcionando economia e melhorias no atendimento a outras doenças que demandam os mesmos recursos utilizados no tratamento do câncer de próstata.
O projeto está alinhado com o objetivo número 1 do Plano Nacional de Saúde, que visa ampliar a oferta de serviços especializados, qualificando o acesso e reduzindo as desigualdades regionais. Além disso, atende ao objetivo número 3, que promove o desenvolvimento de conhecimento científico e o acesso equitativo, igualitário, progressivo e sustentável às tecnologias em saúde. Através da implementação e avaliação deste protocolo assistencial em uma coorte prospectiva multicêntrica nacional, o projeto busca diminuir em 50% o número de intervenções (prostatectomias e/ou radioterapia) em pacientes com câncer de próstata de risco favorável.
O estudo também se propõe a realizar uma análise orçamentária da estratégia de VA em comparação à cirurgia e radioterapia, avaliar os desfechos oncológicos, qualidade de vida, diferenças étnico-raciais e aspectos econômicos, além de desenvolver o protocolo assistencial de VA e capacitar urologistas, radioterapeutas e oncologistas dos centros participantes em todas as regiões do país.
Em parceria com o Ministério da Saúde, 23 centros terciários de todas as regiões do Brasil foram selecionados para participar da implementação e acompanhamento do protocolo de pesquisa, todos passarem por treinamentos específicos visando a padronização dos processos, sendo incluídos pelo menos dois centros de cada região. Espera-se acompanhar aproximadamente 260 participantes que são atendidos nestas unidades até o final de 2026. Serão considerados elegíveis os homens diagnosticados com adenocarcinoma de próstata de baixo risco, definido como Gleason 6, PSA < 10 ng/mL e estadiamento clínico < cT2a.
Os participantes do estudo realizarão consultas médicas semestrais, sendo obrigatória a realização dos exames de PSA e a avaliação de estadiamento clinico (toque retal) em todas as consultas. Adicionalmente, será realizada uma biópsia prostática ao fechar 12 meses do diagnóstico da doença e uma ressonância nuclear multiparamétrica da próstata ao fechar 24 meses do diagnóstico. Além da análise dos desfechos clínicos, o estudo incluirá uma avaliação orçamentária da implementação dessa estratégia assistencial no Sistema Único de Saúde (SUS).
Dra. Marina Bessel, http://lattes.cnpq.br/1529004021639130
Dr. Pedro Henrique Isaacsson Velho, http://lattes.cnpq.br/3729933205801983
Dr. Jeziel Basso, http://lattes.cnpq.br/1868035732995853
Dra. Juliana Beust de Lima, http://lattes.cnpq.br/1075565931269656
Dr. Ricardo André Zordan, http://lattes.cnpq.br/3786150779042313
Dr. Santiago Alonso Tobar Leitão, http://lattes.cnpq.br/9753511142191191
Thais Machado Baptista, linkedin.com/in/thais-machado-baptista-625791b5
Clênia dos Santos Azevedo – Consultora Técnica Cientifica
COPP/CGFPS - Coordenação de Gestão de Programas de Pesquisa
DECIT - Departamento de Ciência e Tecnologia
SECTICS - Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
MS - Ministério da Saúde
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5648436064640439
Jessica da Silva Rodrigues - Coordenadora
COPP/CGFPS - Coordenação de Gestão de Programas de Pesquisa
DECIT - Departamento de Ciência e Tecnologia
SECTICS - Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
MS - Ministério da Saúde
Lattes:
José Eloy dos Santos Júnior - Consultor Técnico Científico
COPP/CGFPS - Coordenação de Gestão de Programas de Pesquisa
DECIT - Departamento de Ciência e Tecnologia
SECTICS - Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
MS - Ministério da Saúde
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4491415666103501
Nadine Giullia Lena - Consultora Técnica Financeira
COPP/CGFPS - Coordenação de Gestão de Programas de Pesquisa
DECIT - Departamento de Ciência e Tecnologia
SECTICS - Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
MS - Ministério da Saúde
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5849667367862182