Pacientes críticos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) apresentam elevada mortalidade no Brasil. No Sistema Único de Saúde (SUS), essa taxa está acima de 30%, segundo os resultados de 2021 do projeto UTIs Brasileiras, realizado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Especificamente, pacientes admitidos por sepse ou aqueles que apresentam necessidade de substituição renal apresentam mortalidade na UTI superior a 40% quando há disfunção orgânica.
Estudos recentes sugerem que inibidores de SGLT2 (nova classe de medicamentos utilizados para controle da diabetes) podem ser benéficos para reverter esse cenário. Eles reduzem a glicemia a partir do estímulo da perda de glicose pela urina, além de diminuírem a produção de mediadores inflamatórios e de lesão de isquemia e reperfusão. Todos esses efeitos são potencialmente úteis em situações críticas, principalmente em pacientes com sepse.
O projeto Defender, desenvolvido pelo Hospital Israelita Albert Einstein, no âmbito do PROADI-SUS, em parceria com o Ministério da Saúde, avalia a eficácia da Dapagliflozina (inibidor de baixo custo, disponível no SUS) na redução da mortalidade, necessidade de tratamentos para insuficiência renal e tempo de internação na UTI.
O estudo deve fornecer, se bem-sucedido, o primeiro resultado positivo em uma população de pacientes críticos com uma droga em mais de duas décadas. Também pode gerar benefícios secundários, como a capacitação em pesquisa clínica para as unidades participantes. A iniciativa se vincula ao objetivo do Plano Nacional de Saúde (PNS) de fomentar a produção do conhecimento científico, para promover o acesso da população às tecnologias em saúde de forma equitativa, igualitária, progressiva e sustentável. Em relação às políticas públicas, vincula-se ao artigo V do Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde: estímulo à pesquisa, à produção e à difusão de experiências, conhecimentos e evidências que apoiem a tomada de decisão, a autonomia, o empoderamento coletivo e a construção compartilhada de ações de promoção da saúde.
Trata-se de um ensaio clínico multicêntrico, randomizado, que atuará em ao menos 20 UTIs de 5 regiões do Brasil, totalizando 500 pacientes.
Critérios de inclusão:
Critérios de Exclusão:
Os pacientes serão randomizados para utilizar ou não o inibidor. O braço intervenção receberá o cuidado habitual da UTI, adicionado por dapagliflozina 10 mg/dia por 14 dias (ou até receber alta), na ausência de eventos adversos. O uso da medicação será interrompido após a alta da UTI.
A dapagliflozina será administrada por via oral, preferencialmente pela manhã, não necessitando de jejum. Para pacientes com contraindicação ao uso de medicações por via oral, a administração da droga será por via enteral (sonda oroenteral, orogástrica, gastrostomia ou jejunostomia, conforme disponibilidade), após ser macerada e diluída em água.
A dapagliflozina deverá ser suspensa caso seja indicado tratamento de insuficiência renal ou o paciente esteja há mais de 6 horas em anúria (ou seja, com baixa produção de urina), conforme monitorização habitual da UTI, ou caso algum evento adverso ocorra.
O braço controle receberá apenas o cuidado habitual da UTI. Não haverá mascaramento de pacientes ou equipe assistente.
Desfechos
Todos os desfechos serão censurados na alta hospitalar, ou seja, não haverá seguimento após a alta do paciente do hospital. Caso o paciente receba alta antes do período do estudo, o seguimento será interrompido.
São eles:
Os desfechos 5 a 7 visam avaliar se o tempo de uso de suporte orgânico (terapia de substituição renal, uso de vasopressores ou ventilação mecânica) foi menor nos pacientes que utilizaram dapagliflozina. Estas aferições são complementares ao desfecho primário do estudo.
O desfecho hospitalar será anotado no formulário eletrônico de coleta de dados (RedCap®) pela equipe local, que seguirá o paciente seja através de prontuário eletrônico no sistema ou através de seguimento diário pessoal até a alta hospitalar.
Principais Resultados:
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