A leucemia mieloide aguda (LMA) e a síndrome mielodisplásica (SMD) são doenças potencialmente fatais, que comprometem a produção de células saudáveis na medula óssea, responsável pela fabricação dos componentes do sangue: glóbulos vermelhos, encarregados do transporte de oxigênio até os órgãos, glóbulos brancos, que defendem o corpo das infecções e as plaquetas, que evitam hemorragias.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos, geralmente, de origem desconhecida. Tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Segundo estimativas do instituto, para cada ano, entre 2020 e 2022, devem ser diagnosticados 10.810 novos casos no Brasil. A LMA é um dos tipos mais comuns e mais agressivos da doença em adultos. Apesar de rara, é identificada pela queda do número de células saudáveis - momento em que o paciente passa a desenvolver anemia, infecções e sangramentos.
De acordo com a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), a SMD engloba um grupo de doenças, podendo ser classificada em primária, quando não se sabe o motivo para as modificações nas células da medula, considerada a mais comum, ou secundária, quando é desenvolvida após tratamento com quimioterapia ou radioterapia, por exemplo. Quando a medula para completamente de produzir células saudáveis, a SMD pode evoluir para a LMA. O tratamento dessas doenças pode envolver quimioterapias ou até mesmo o transplante de medula óssea.
A utilização de células Natural Killer (NK), cultivadas em larga escala e com atividade anti-leucêmica comprovada, poderá representar uma modalidade terapêutica eficaz para essas doenças fatais. Oriundas da medula óssea e definidas como células citotóxicas não específicas, elas são importantes na resposta precoce às células tumorais e infecções virais. Parte dos glóbulos brancos, os leucócitos, fazem a defesa do organismo contra agentes infecciosos. As NK reconhecem outras células infectadas por vírus ou tumores e atuam para destruí-las.
Atualmente, vários estudos têm demonstrado sucesso no desenvolvimento de novos protocolos utilizando células NK para pacientes com LMA que não apresentaram a resposta esperada frente às medidas terapêuticas habituais (não respondedores). O cordão umbilical mostrou ser uma fonte promissora para obtenção de células NK. Além disso, uma fonte potencial é altamente disponível, uma vez que existe uma grande quantidade deste produto em bancos públicos e privados no Brasil e no mundo.
Com base neste contexto, o projeto realiza, desde 2019, um ensaio clínico de fases I e II, envolvendo pacientes com LMA, refratária ou recidivada, e SMD de alto risco, para as quais ainda não existem terapias efetivas. As células NK são cultivadas no Hospital Israelita Albert Einstein sob condições de Boas Práticas de Manufatura (BMP), caracterizadas e infundidas nos participantes seguindo um rigoroso protocolo médico específico para este propósito.
Este novo protocolo terapêutico trará contribuições significativas para os pacientes e para o Sistema Único de Saúde (SUS) como um todo. A proposta de utilizar células NK provenientes de cordão umbilical garante menor risco de doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH) quando comparado com o transplante de medula óssea. Além disso, em médio e longo prazos, o potencial de cura para pacientes com LMA refratária pode levar a uma redução de custos para o SUS. Espera-se que ao menos 30% dos pacientes sejam beneficiados, contribuindo com a otimização da oferta de internação e quimioterapia.
Fazem parte do escopo do projeto a padronização, o isolamento e a expansão de células NK ex-vivo, visando avaliar a dose máxima tolerada, o nível de segurança, a eficácia do procedimento e o potencial de cura dos pacientes.
As células NK cultivadas no Einstein serão infundidas em pacientes de até 65 anos, diagnosticados com LMA de alto risco, refratários e recidivados e SMD de alto risco com performance status adequado, que serão incluídos no estudo clínico mediante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Assim, o projeto prevê ações em duas fases:
Principais Resultados:
Produção de CORD-NK em condições de BPF para realização dos seguintes ensaios:
Nelson Hamerschlak - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP – Lattes
Dra. Lucia Mariano Rocha Silla – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, RS
Dr. Dean Anthony Lee – Nationwide Children´s Hospital and The Ohio State University Comprehensive Cancer Center, Ohio - USA
Dra. Elizabeth J Shpall – MD Anderson Cancer Center, Texas - USA
Dra. Katy Rezvani - MD Anderson Cancer Center, Texa - USA
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE)