Infecções respiratórias causadas por vírus, bactérias e tuberculose estão ligadas a altas taxas de morbidade e mortalidade em crianças e adolescentes. As pneumonias em geral foram responsáveis por até 672 mil mortes no mundo em crianças menores de 5 anos de idade em 2019, representando 15% da mortalidade nesta faixa etária.
Entre as causas de infecção do trato respiratório inferior em crianças e adolescentes, a tuberculose está associada à alta morbimortalidade porém de difícil diagnóstico pois nesta faixa etária ocorrem formas associadas a uma menor carga bacilar e dificuldade em produzir escarro. Em 2020, a TB foi reconhecida pela OMS como a principal causa infecciosa de mortalidade no mundo na população em geral, estimando-se que cerca de 25% da população mundial esteja infectada com o Mycobacterium tuberculosis (M. tuberculosis), a chamada infecção latente por TB (ILTB), e aproximadamente 10% dessa população de risco evolui para doença (TB ativa) ao longo da vida.
Entre os indivíduos com ILTB, as crianças e adolescentes apresentam maior risco de progressão. Nesse cenário, a busca ativa de crianças e adolescentes com a doença é uma das prioridades para a realização do diagnóstico, tratamento e controle da doença. No Brasil não há dados dessa população que avaliem diretamente a prevalência da doença, seja na forma ativa ou latente.
As estimativas sugerem que 10-15% dos casos de tuberculose acontecem na infância. O objetivo da OMS para o combate à tuberculose é o fim da epidemia mundial, mais especificamente sinalizando indicadores para 2035, com 95% de redução da mortalidade e 90% de redução da incidência de tuberculose. Impactam negativamente na epidemia de tuberculose as más condições socioeconômicas e sanitárias, desnutrição, a epidemia de HIV, entre outros fatores.
Ainda segundo a OMS, o Brasil está entre os 30 países com a maior incidência mundial de tuberculose. Embora tenha havido redução ao longo da primeira década do século XXI, a incidência manteve-se estável nos últimos anos e, em 2019, foram diagnosticados 46 casos novos/100.000 habitantes/ano no Brasil. A incidência estimada pela OMS em pacientes com idade inferior a 14 anos é de 11 casos novos/100.000/ano, com a limitação de que este dado não resulta de estudos prospectivos, ainda mais quando se tem em conta o viés bem reconhecido das dificuldades inerentes ao diagnóstico na faixa etária pediátrica mencionados acima.
Com base neste cenário, o projeto busca colaborar com o conhecimento sobre a tuberculose no Brasil através da realização de estudos relacionados ao diagnóstico e tratamento da tuberculose latente e ativa, para melhorias nas estratégias de rastreamento e intervenção precoce, além de embasamento dos critérios atuais do Ministério da Saúde (MS). A ação contempla, ainda, capacitar profissionais, no sistema EaD, atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS).
A iniciativa irá concluir o estudo TB PED, iniciado no triênio 2018-2020, que visa identificar a prevalência de tuberculose em pacientes com idade inferior ae 15 anos hospitalizados com sinais e sintomas de infecção do trato respiratório inferior (ITRI); irá colaborar com a ampliação da amostra brasileira no Estudo GXT, que visa testar três diferentes abordagens de investigação dos contatos com o intuito de aumentar o percentual de indivíduos que iniciam tratamento de Infecção Latente por Tuberculose (ILTB) e incluir as crianças com idade inferior a 5 anos neste estudo.A iniciativa conta com a parceria de 23 entidades de saúde e de educação localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Pará e Amazonas, além da Universidade McGill, localizada em Montreal, no Canadá.
Em relação ao estudo TB PED, a tuberculose ativa e latente será investigada através do escore clínico para TB do Ministério da Saúde, que inclui questionário, avaliação por teste tuberculínico (TT) e radiografia de tórax, além da dosagem de IGRA (Interferon Gamma Release Assay). Os participantes também serão investigados quanto à presença da doença a partir do Xpert MTB/RIF ULTRA em amostras de escarro induzido e swab lingual, possibilitando identificar a técnica mais acurada e a avaliação de desempenho dos novos testes no SUS.
O TB PED também possibilitará a identificação de bactérias e vírus respiratórios associados ao diagnóstico de infecções do trato respiratório inferior (ITRI), causada independentemente ou em associação com a tuberculose (por PCR em painel multiplex amplo, para identificação de vírus e bactérias prevalentes).
Em relação ao Estudo GXT, de abordagens preventivas, inicialmente, o estudo no Brasil incluiria apenas 500 pacientes no Rio de Janeiro-RJ. Porém foram incluídos mais 1000 pacientes no Brasil, sendo 500 em Manaus (AM) e 500 em Porto Alegre (RS) e região metropolitana. Esta expansão da amostra permitirá a avaliação dos objetivos gerais do estudo e a inclusão de contatos com idade inferior a 5 anos, que não estava incluída no estudo inicial. Esta inclusão é importante por ser uma população de risco para progressão da tuberculose.
Portanto, consiste em um ensaio clínico randomizado em indivíduos com idades até 50 anos, contactantes com caso índice com formas infectantes de tuberculose ativa. Os participantes serão randomizados em clusters, com todos os indivíduos da mesma família no mesmo grupo. Será comparada a abordagem padrão no Brasil (TT e radiografia de tórax) com duas abordagens simplificadas (TT e GeneXpert ou apenas radiografia de tórax). Estima-se detectar um incremento de 12% no início do tratamento de tuberculose latente nos grupos investigados de forma simplificada. Também serão avaliados o tempo até o início do tratamento, os eventos adversos, bem como os custos sob a perspectiva do sistema de saúde e do paciente.
Serão capacitados profissionais do SUS que atuam no atendimento da tuberculose, em unidades básicas e/ou de referência, por meio de atividade de educação, em acordo com Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas (CGDR).
Estudo TB PED
Estudo GXT
Estudo COVIDa
Marcelo Comerlato Scotta - líder operacional - http://lattes.cnpq.br/6014887992593254
Renato Tetelbom Stein - responsável técnico - http://lattes.cnpq.br/8128743330371501
Fernanda Hammes Varela - http://lattes.cnpq.br/3542155297553103
Márcia Polese-Bonato - http://lattes.cnpq.br/9332525631025806
Caroline Nespolo de David - http://lattes.cnpq.br/9574814192146803
Ivaine Tais Sauthier Sartor - http://lattes.cnpq.br/0720320477699543
Gabriela Oliveira Zavaglia - http://lattes.cnpq.br/2592115428844454
Ingrid Rodrigues Fernandes - http://lattes.cnpq.br/4836778753062846
Thais Raupp Azevedo - http://lattes.cnpq.br/6944475636178855
Luciane Beatriz Kern - http://lattes.cnpq.br/1143965788889487
Shilei Villanova Ribeiro
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.Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas (CGDR)