No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) visa garantir a integração de ações e serviços de saúde, promovendo ao usuário a atenção de forma contínua, resolutiva e integral. Dessa forma, será possível investir esforços para o fortalecimento da RAS nas Regiões de Saúde a partir da implementação de Linhas de Cuidado (LC) e de ações com potencial de impactar na qualidade de vida da população e na gestão do SUS.
Por conta desse cenário, o projeto FortaleceRAS – conduzido pelo Hcor – tem o objetivo de apoiar a implementação das linhas de cuidados de Sobrepeso e Obesidade (SPO), Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), em duas Regiões de Saúde, de forma escalonada.
A estruturação da atenção e da gestão das Regiões de Saúde caracteriza-se ainda pela fragmentação de serviços, programas, ações e práticas clínicas, dificultando a integralidade da oferta de serviços e o atendimento às reais necessidades da população. Não obstante, as DCNT estão entre as principais causas de morte no País e gastos para o sistema público. Portanto, apoiar o fortalecimento das RAS, como um sistema focado e devidamente adaptado às Regiões de Saúde, a partir do apoio à implementação das LC envolvidas, pode ser o diferencial para lidar com cenário epidemiológico e nutricional da população abrangida. Destaca-se ainda a possibilidade de ampliação do projeto para o território nacional, visando à continuidade do projeto em outras regiões de saúde ou a partir da incorporação de outras LC.
Utiliza-se, de modo geral, da metodologia da problematização, que fornece um percurso para a atuação sobre as questões da realidade local. Inicia-se com o desenvolvimento de revisão sistemática para identificação de referenciais teóricos, barreiras e facilitadores de implementação de diretrizes clínicas, seguido do diagnóstico situacional e priorização dos problemas identificados nas regiões de saúde atendidas, elaboração do plano de intervenção e sua execução, perpassando por um aprofundamento teórico com a capacitação dos profissionais de saúde e gestores e completado pelo monitoramento dos indicadores de saúde da população.
Justificativa e relevância do projeto para o SUS
Espera-se produzir melhores resultados assistenciais e gerenciais aos serviços, com impacto positivo nos indicadores de saúde da população, voltados para as LC envolvidas, como a diminuição da taxa de mortalidade, taxa de internação hospitalar e tempo médio de permanência hospitalar por condições relacionadas às LC e o aumento do número de pacientes diagnosticados e atendidos em cada serviço, bem como também orientar profissionais de saúde para a atenção longitudinal e coordenação do cuidado, e propiciar aos gestores formas de organização da rede no seu território e ferramentas para o gerenciamento dos processos de trabalho e para o monitoramento dos desfechos de saúde da população.
Para cada objetivo do projeto, metodologias específicas foram definidas:
O projeto obteve seis macro resultados:
1) Relatório de barreiras de implementação de linhas de cuidado que visou embasar gestores e profissionais na implementação de práticas clínicas, a partir da apresentação de modelos teóricos e frameworks de implementação, bem como, da identificação de barreiras e facilitadores no processo de implementação de acordo com o nível organizacional (micro, meso e macro). Estas tiveram por objetivo facilitar fluxos de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), subsidiando profissionais de saúde, gestores e cidadãos quanto à identificação de agravos e onde buscar atendimento. A identificação das barreiras e facilitadores auxilia no processo de implementação das linhas de cuidado e traz benefícios aos pacientes para um melhor fluxo na Rede de Atenção à Saúde (RAS);
2) Elaboração dos diagnósticos situacionais das duas regiões de saúde permitiu a sistematização e apresentação dos dados e equipamentos de saúde presentes. Nesse sentido, o engajamento dos gestores no levantamento das informações foi essencial para o desenvolvimento das atividades e possibilitou a estruturação de coleta e compilação dos dados, com consequente identificação das necessidades em saúde e de possibilidades de monitoramento das condições de saúde. O diagnóstico situacional foi uma ferramenta para identificação das condições de saúde e risco de uma população, possibilitando o planejamento de ações em saúde. Contribuiu também para as atividades implementadas e consequentemente auxiliar na melhor assistência ao paciente;
3) Dois planos de intervenção, um para cada região de saúde, apresentaram mobilização e adesão de importantes atores-chaves (técnicos de referência, profissionais, gerentes e diretores de serviços) no processo de escrita dos documentos. Os planos de intervenção visaram direcionar as ações de implementação e envolver os principais atores no fortalecimento das linhas de cuidado prioritárias. Nas duas regiões de saúde, as ações de implementação foram definidas, assim como os atores responsáveis, período, locais de execução e indicadores de monitoramento. A execução das ações descritas nos planos auxiliou a organização do sistema de saúde regional e aprimoramento da gestão clínica para as cinco linhas de cuidado. A utilização dessa ferramenta (plano de intervenção) foi relevante para o cumprimento das ações necessárias para a implementação das linhas de cuidado nas duas regiões de saúde do projeto;
4) Capacitações dos profissionais de saúde nas duas regiões de saúde. Primeiramente, foi realizada a qualificação dos tutores, juntamente com a entrega do material de orientação (Guia do tutor). Os tutores presentes nos serviços de saúde, identificaram os profissionais líderes e realizaram as capacitações em quatro módulos com temas relevantes para a implementação das linhas de cuidados prioritárias. Os tutores eram responsáveis pela capacitação nos serviços de saúde de profissionais de saúde de todas os níveis de atenção nas duas regiões de saúde. Além destas, foram desenvolvidas Sessões de Aprendizagem Virtuais (SAV), síncronas, com ciclos para cada uma das cinco linhas de cuidados com médicos especialistas do Hcor e profissionais de diferentes níveis de atenção. O escalonamento do aprendizado é uma das primícias para a implementação do conhecimento e possível translação nos serviços de saúde. A implementação do conhecimento adquirido nas capacitações concentrou-se em estratégias utilizadas para adotar e integrar, as já existentes, intervenções baseadas em evidências científicas, considerando o contexto regional. Houve também o desenvolvimento de um curso de ensino à distância (EaD) sobre a importância do monitoramento de indicadores com foco nas linhas de cuidado abordadas no projeto. Esse curso teve a intenção de melhorar a qualidade e de potencializar a coleta de dados e avaliação da implementação das linhas de cuidado. Essa entrega reforça a qualificação da força de trabalho do SUS através das capacitações realizadas e a gestão dos serviços de saúde por meio do monitoramento de indicadores em saúde. Os indicadores permitem o conhecimento do cenário em que se está inserido e auxiliam as atividades de planejamento da prática dos serviços de saúde;
5) No monitoramento de ações, foi possível elencar as dificuldades que os gestores e profissionais de saúde enfrentaram e discutir em conjunto possibilidades de superação, a partir das realidades locais. A participação das articuladoras locais e tutores mostraram a importância do trabalho em equipe para mobilização, sensibilização, comunicação e integração dos atores sociais envolvidos na capacitação e implementação das ações;
6) Monitoramento dos indicadores com o apoio da equipe de tutores, articuladoras e gestão também foi fundamental para a obtenção dos indicadores de resultados do projeto. Notou-se a importância da gestão regional para apoiar a participação dos profissionais no curso de indicadores e fortalecer a coleta de dados. Conforme citado anteriormente, os indicadores em saúde permitem o conhecimento do território e auxiliam nas tomadas de decisões que visam a melhor assistência ao paciente atendido e melhor fluxo de trabalho.
Cleusa Ramos Enck
Gizelda Monteiro da Silva
Enilda Maria de Sousa Lara
Tatiana Yonekura
Sidney Marcel Domingues
Liza Yurie Teruya Uchimura
Denila Bueno Silva
Jeane Roza Quintans
João Gabriel Sanchez Tavares da Silva
Juliana Invenção Gomes
Mabel Fernandes Figueiró
Pedro Paulo Magalhães Chrispim
Raira Pagano - Hcor
Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS)
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS)
Jorge Otávio Maia Barreto – Fundação Oswaldo Cruz, Brasília, DF, http://lattes.cnpq.br/6645888812991827
Coordenação-Geral de Prevenção de Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo (CGCTAB)
Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN)