Em 2015, as Nações Unidas consideraram a saúde sexual e reprodutiva como sendo elemento chave para o desenvolvimento, incluindo o tema dentro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Entre os conceitos chaves estão a atenção pré-natal e obstétrica, a prevenção e cuidado de IST e a promoção do sexo seguro.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um milhão de pessoas adquirem novas IST diariamente, sendo algumas curáveis, como a sífilis e hepatite C, e outras incuráveis, como o HIV, hepatite B e o HTLV. O manejo destas infecções deve ser feito de forma ampla para facilitar o diagnóstico e controle das infecções, uma vez que a existência de uma infecção pode facilitar o surgimento de outras.
Estudos epidemiológicos mostram que a maioria dos brasileiros sabe que o preservativo é a melhor forma de prevenção de IST, entretanto, ainda assim, 45% da população sexualmente ativa referiu não utilizar preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. Entender o comportamento sexual de risco associado à presença destes vírus passa a ser absolutamente necessário para que possamos entender a dinâmica de transmissão, identificando a necessidade de implementação de estratégias para o controle de ambos.
HTLV
O HTLV-1 é um vírus linfotrópico de células T que utiliza uma estratégia de replicação capaz de persistir no infectado e, consequentemente, permite a sua transmissão também pela via vertical (que ocorre da mãe para o filho durante a gestação, parto ou aleitamento materno) apresentando seis subtipos - estima-se que, no planeta, cerca de 20 milhões de pessoas estejam infectadas pelo vírus.
Apesar de ter sido um dos primeiros retrovírus humanos identificados, pouco se sabe sobre a sua distribuição e ainda não foram implementadas estratégias efetivas para o seu controle, e ainda não possui vacinação e não está na lista de notificação compulsória nacional.
Cerca de 2-4% dos indivíduos infectados irão desenvolver leucemia de células-T do adulto e 1 a 2% irão desenvolver mielopatia (déficit neurológico relacionado à medula espinhal) associada ao HTLV, uma mielopatia progressiva grave. No entanto, aproximadamente 90% dos infectados por HTLV permanecerão assintomáticos ao longo de sua vida, mantendo uma rede de transmissão silenciosa pela via sexual, sanguínea e vertical.
HIV na gestação
Paralelamente, apesar de o agente causador da sífilis, do HIV ter sido descoberto há muito tempo, e de existirem métodos de diagnóstico e tratamento, o HIV ainda persiste como um importante problema de saúde pública.
Apesar dos avanços no processo de detecção do HIV durante a gestação, ainda existem falhas que merecem ser investigadas para controle do aumento observado nos últimos anos. A ausência ou início tardio do acompanhamento pré-natal, bem como o atendimento pré-natal inadequado, podem ser algumas das causas relacionadas.
Avaliar a atual prevalência da infecção pelo vírus durante a gestação, em âmbito nacional, nas diferentes dimensões sociais e culturais, se faz necessária tendo em vista que o tratamento com terapia antirretroviral é de oferta universal no país. A detecção precoce do vírus durante o pré-natal representa uma oportunidade de intervenção na gestante infectada, reduzindo a taxa de transmissão para o bebê.
Sífilis
Assim como o HTLV e o HIV, a sífilis demanda atenção especial dos gestores, tendo sido considerada epidêmica em 2016. As taxas de sífilis congênita tiveram um aumento substancial nos últimos anos, representando um crescimento de 14,7% entre 2015 e 2017, apesar de a maioria das mulheres terem assistência pré-natal. Nos últimos dez anos, a taxa de mortalidade infantil pela doença passou de 2,3 para 6,7/100 mil nascidos vivos no país.
Hepatites virais
As hepatites constituem um enorme desafio à saúde pública, sendo responsáveis por cerca de 1,4 milhões de óbitos anualmente em todo o mundo. No Brasil, os óbitos por hepatites virais têm crescido exigindo informações epidemiológicas atualizadas e políticas de saúde pública bem estruturadas. Entre as hepatites, existe um maior número de casos notificados de hepatite C, que apresenta uma distribuição desigual entre as diferentes regiões do país, seguido pela notificação de hepatite B. Cerca de 11% dos casos do país ocorrem em gestantes e 6,2% ocorrem por transmissão vertical.
Existem poucos estudos epidemiológicos no Brasil sobre a prevalência da hepatite B e C em gestantes. A investigação da hepatite B faz parte do rol de exames do pré-natal, visando a prevenção da transmissão vertical e, embora a investigação da hepatite C não faça parte da rotina de pré-natal, a transmissão vertical pode ocorrer, o que justifica a importância desse estudo.
O controle e monitoramento das IST deve ser feito de forma ampliada, uma vez que elas compartilham fatores sociais e comportamentais, além da via de transmissão. Os estudos feitos no Brasil até o momento, avaliando a infecção por HTLV, não apresentam cobertura nacional, impossibilitando o planejamento de estratégias de enfrentamento da doença, especialmente no que se refere à transmissão vertical. Prevalências muito discrepantes foram encontradas, conforme o estado, sendo necessária uma avaliação do Brasil como um todo ou, ao menos, que tenha representatividade em nível macrorregional. Adicionalmente, o monitoramento da infecção por sífilis, HIV e hepatites virais em gestantes é fundamental para o direcionamento das estratégias de prevenção, vigilância e controle.
O projeto irá fornecer informações importantes para o planejamento de ações para o enfrentamento da situação epidemiológica destas doenças em parturientes no Brasil e contribuirá para o direcionamento de políticas públicas para seu enfrentamento, fortalecendo a vigilância epidemiológica. Também coletará dados que permitirão avaliar indicadores referentes ao conhecimento, atitudes e práticas da população do Rio Grande do Sul relacionados à IST/AIDS e hepatites virais, avaliando a prevalência populacional, constituindo-se num estudo piloto que poderá ser expandido para todo o país.
Entre os objetivos da iniciativa estão:
Objetivos do Plano Nacional de Saúde aos quais o projeto se vincula:
Benefícios aos SUS:
O projeto trará informações importantes para o direcionamento das políticas públicas dos agravos citados, tanto em parturientes quanto em população geral. Poderá servir de subsídio para avaliar a necessidade de incorporação de novos testes de rastreamento no sistema público de saúde e avaliar a adequação da realização dos testes realizados. Além de fornecer informações importantes para o planejamento de ações para o enfrentamento da situação epidemiológica das doenças citadas, o projeto contribuirá para o direcionamento de políticas públicas para o enfrentamento das doenças crônicas não-transmissíveis decorrentes do HTLV, controle da epidemia de HIV/AIDS, sífilis e hepatites virais no Brasil, fortalecendo a vigilância epidemiológica. Também coletará dados que permitirão avaliar indicadores referentes ao conhecimento, atitudes e práticas da população do Rio Grande do Sul relacionados à IST/AIDS e hepatites virais, constituindo-se num estudo piloto que poderá ser expandido para todo o país.
Para alcançar os objetivos propostos, o projeto foi dividido em dois eixos temáticos:
O estudo será realizado de forma a representar todo o território nacional e incluirá maternidades do SUS e maternidades conveniadas ao SUS, sendo que somente serão incluídas no estudo aquelas que apresentarem um volume de parto superior a 500 no ano anterior. Serão incluídas gestantes de 16 a 49 anos. Serão excluídas gestantes atendidas pós-aborto espontâneo ou provocado.
Os resultados encontrados proporcionarão um dimensionamento destas infecções em parturientes no Brasil, além de identificar aspectos relacionados à assistência pré-natal. Quando comparados a inquéritos anteriores, os resultados identificarão uma linha de tendência temporal acerca do comportamento destas infeções. Também será possível estimar a magnitude da infecção por HTLV e calcular a estimativa de doenças associadas no futuro, impactando no sistema de saúde como um todo. Estas informações são de vital importância para o planejamento de ações de saúde a curto e longo prazo, no que se refere às doenças estudadas e às IST em geral. Os resultados servirão de subsídio para o direcionamento de políticas públicas para estes agravos.
Para a avaliação de conhecimentos, atitudes e práticas da população geral relacionados às IST, será realizado um estudo transversal de base populacional, com indivíduos de ambos os sexos, maiores de 18 anos, representativo da população do estado do Rio Grande do Sul. O estado do Rio Grande do Sul, e principalmente Porto Alegre, são os locais com maiores prevalências de HIV e sífilis do país. Entender a dinâmica de transmissão e as atitudes que levam a esta alta prevalência é de vital importância para o controle destas doenças.
Uma amostra de indivíduos adultos será sorteada a partir de estratos censitários, sendo que metade da amostra pertence aos municípios com maior taxa de notificação do estado: Porto Alegre e região metropolitana.
Os resultados contribuirão para avaliar conhecimentos, atitudes e práticas da população geral em relação às IST em regiões de alta prevalência destas infecções, como também avaliar a prevalência de HIV, sífilis e hepatites virais a nível populacional. Estes resultados poderão ser usados para o direcionamento de políticas públicas para o enfrentamento da epidemia de sífilis e HIV, entendendo melhor os comportamentos que levam à persistência ou aumento da infecção. Também será um importante instrumento para a vigilância epidemiológica e enfrentamento da epidemia de sífilis no país e infecções por HIV e hepatites virais, sendo os dados apresentados formalmente ao Ministério da Saúde, divulgados para a comunidade científica dentro e fora do país, e publicados em periódicos de acesso livre.
Estudos COVID:
Trata-se de um estudo transversal, no qual amostras aleatórias positivas para COVID-19 são sequenciadas. A pesquisa foi realizada com amostras encaminhadas pelos municípios do Rio Grande do Sul para o Laboratório Central do Estado (LACEN).
As amostras positivas para SARS-CoV-2 durante a epidemia de COVID-19 foram submetidas à extração de RNA viral a partir de 200 μL da amostra clínica respiratória recebida (swab nasofaringe/orofaringe ou aspirado da nasofaringe). O material extraído é submetido à amplificação do genoma viral seguido de sequenciamento no equipamento MiSeq (Illumina). Após a montagem dos genomas, é realizada a análise filogenética a fim de entender o caminho percorrido pelo vírus e as adaptações genômicas sofridas no percurso.
Estudo PRISMA
Estudo ATITUDE
Estudos COVID
Líder de projeto: Augusto Bacelo Bidinotto - Hospital Moinhos de Vento
E-mail: augusto.bidinotto@hmv.org.br
Responsável Técnica: Eliana Márcia Wendland - Hospital Moinhos de Vento
Ana Carolina Monteiro da Rocha - Hospital Moinhos de Vento Aniúsca Vieira - Hospital Moinhos de Vento Bruna Angelo Vieira - Hospital Moinhos de Vento Cássia Simeão Vilanova - Hospital Moinhos de Vento Daniela Benzano - Hospital Moinhos de Vento Fernanda Abdallah - Hospital Moinhos de Vento Giovana Petracco de Miranda - Hospital Moinhos de Vento Giovana Tavares dos Santos - Hospital Moinhos de Vento Gustavo Eidt - Hospital Moinhos de Vento Igor Terra - Hospital Moinhos de Vento Shayanne Santos da Silva - Hospital Moinhos de Vento
Secretaria Estadual da Saúde - Rio Grande do Sul (SES-RS) Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis - DATHI
Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA)