Resumo

Estudos já apontaram que a COVID-19 está ligada a sintomas prolongados, mesmo quando falamos de casos não graves, sugerindo que as suas consequências a longo prazo podem não depender da seriedade inicial. Isso contribuiria para aumentar a demanda por serviços de reabilitação dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), além de afetar a qualidade de vida destes pacientes expostos ao vírus.

Desta forma, por ser reconhecido como tema prioritário pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é fundamental a realização de estudos sobre as sequelas deixadas pela COVID-19 na população brasileira, possibilitando que haja políticas voltadas à prevenção, ao tratamento e à recuperação desta população.

Iniciado no triênio 2021-2023, o projeto Impacto em longo prazo da COVID-19 na população brasileira, mantido pelo Hospital Moinhos de Vento, tem justamente o propósito de avaliar os desfechos da doença de longo prazo em pacientes adultos e quais os fatores de risco associados.  Seu plano de trabalho contempla três estudos observacionais.


Introdução

Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de COVID-19, cientistas estudam suas causas, tratamentos e efeitos a longo prazo, já que cerca de 20% dos pacientes desenvolvem complicações graves, que incluem falência respiratória, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), disfunção orgânica múltipla, delirium, entre outras. Adicionalmente, apresentam alta dependência de ventilação mecânica prolongada e outras terapias de suporte vital, como sedação profunda, uso de bloqueadores neuromusculares, suporte hemodinâmico e hemodiálise.

É importante citar que até mesmo pacientes que têm casos leves da doença podem sofrer sequelas prolongadas. Assim, a OMS reconhece esses efeitos, conhecidos como Long COVID, e enfatiza a importância de haver uma investigação. Os estudos propostos visam fornecer dados detalhados sobre o impacto da doença a longo prazo, permitindo melhores decisões políticas e a implementação de medidas eficazes de reconhecimento, reabilitação e prevenção. Isso é fundamental, uma vez que essas decorrências podem sobrecarregar o Sistema Único de Saúde.

Além disso, este contexto sugere que a doença traz prejuízos à saúde física e mental de sobreviventes em longo prazo, impactando, também, a sua qualidade de vida. Em cenários similares, estudos observacionais com sobreviventes de cuidados intensivos demonstram maior ocorrência de fraqueza muscular, dependência para atividades da vida diária, disfunção cognitiva, ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), bem como menor qualidade de vida e sobrevida em comparação com a população geral.

Embora estejam disponíveis estudos observacionais avaliando o impacto agudo da COVID-19, dados sobre resultados de longo prazo são escassos. Adicionalmente, um crescente número de estudos vem demonstrando a associação entre COVID-19 e sintomas prolongados mesmo em populações não graves, 14 sugerindo que o risco de consequências em longo prazo pode ser independente da gravidade na fase aguda da COVID-19.


Métodos

O projeto “Impacto em longo prazo da COVID-19 na população brasileira” se dispõe a avaliar o impacto da doença em desfechos de longo prazo de indivíduos adultos por meio de três estudos clínicos.

No Estudo 1, haverá 650 pacientes hospitalizados por COVID-19 sendo acompanhados por um ano para avaliar como a doença afetará sua qualidade de vida. Esta análise será realizada em múltiplos hospitais, incluindo em seu escopo entrevistas telefônicas regulares.

No Estudo 2, serão1050 pacientes ambulatoriais, ou seja, que não precisaram ser hospitalizados, sendo acompanhados pelo mesmo período para avaliar os efeitos da COVID-19 em casos leves.

Já no Estudo 3, 198 pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) causada pela COVID-19 serão comparados com controles sem histórico de hospitalização recente ou sintomas persistentes de COVID-19. O objetivo é avaliar o impacto da doença na saúde cardiorrespiratória e renal a longo prazo, incluindo exames presenciais e entrevistas telefônicas.

Estas análises possibilitarão dar luz às informações importantes sobre os efeitos duradouros da COVID-19 na saúde da população brasileira, possibilitando o desenvolvimento de políticas de saúde pública e estratégias de tratamento dos pacientes afetados


Equipe

Instituições

  • Porto Alegre

    hospital moinhos de vento

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