Dados demonstram que cerca de 30 a 40% dos pacientes com câncer de próstata localizado não precisam realizar tratamento intervencionista imediato (cirurgia, radioterapia e/ou hormonioterapia) por não apresentarem risco de progressão da doença. Múltiplos países instituem programas chamados de VA de forma a adiar, ao máximo possível, o tratamento ativo e, com isso, alocar melhor os recursos de saúde, diminuir o risco de eventos adversos e sequelas das terapias, como disfunção erétil, incontinência urinária e sequelas intestinais. É importante ressaltar que ensaios clínicos randomizados não demonstraram uma vantagem de sobrevida em homens com doença de risco favorável tratados com tratamento curativo imediato versus observação.
No Brasil, o câncer de próstata é a neoplasia mais comum em homens, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA): um levantamento mostrou que 65.840 casos novos foram diagnosticados em 2020. Segundo a National Comprehensive Cancer Network, organização americana sem fins lucrativos, mesmo realizando tratamento ativo com cirurgia e/ou radioterapia (associado ou não à hormonioterapia), um percentual de pacientes acaba evoluindo com recorrência bioquímica (quando o tumor volta), doença metastática e/ou morte. Por outro lado, muitos pacientes que não realizam intervenção acabam evoluindo bem, sem aumento de PSA e sem progressão da doença.
Devido a esse comportamento, diferentes critérios clínicos (toque retal), anatomopatológicos (Escore de Gleason/ISUP) e laboratoriais (níveis de PSA) são utilizados para classificar os pacientes em diferentes grupos prognósticos: risco favorável, risco intermediário e risco desfavorável. Pacientes com escore de risco favorável são pacientes com PSA menor do que 10 ng/mL, escore de Gleason 3+3 (ISUP 1) e toque retal sem anormalidades.
Apesar de variar um pouco em relação à periodicidade dos exames, de maneira geral, os protocolos de VA acompanham os pacientes com exame de PSA e toque retal semestralmente e biópsia prostática anualmente, alguns incorporando anualmente também a ressonância nuclear magnética multiparamétrica da próstata. Quando há mudança no padrão dos exames sugerindo progressão da doença, especialmente com aumento do escore de Gleason na biópsia, o paciente é encaminhado para tratamento curativo, seja com cirurgia ou com radioterapia, sem perda das chances de cura do paciente. Estudos de coorte internacionais e estudos randomizados demonstraram que, em 10 anos, apenas de 40 a 50% dos pacientes necessitarão de intervenção ativa em seu câncer.
No Brasil, não há dados que demonstrem o uso sistematizado da estratégia da VA, no SUS, em pacientes com câncer de próstata de risco favorável. A maioria dos países desenvolvidos já adotam tal estratégia em seus sistemas nacionais de saúde, tanto para maximizar a eficiência do sistema (diminuindo gastos, fila para cirurgias e/ou radioterapia), bem como para minimizar eventos adversos e sequelas dos tratamentos. Dessa forma, um programa nacional de VA em pacientes com câncer de próstata de risco favorável diagnosticados no SUS pode qualificar ainda mais o cuidado a pacientes que sofrem dessa doença, bem como otimizar a alocação de recursos.
Para isso, será realizado um estudo de coorte nacional com essa população, baseado na implementação do protocolo assistencial desenvolvido no projeto para que, conforme os resultados positivos no estudo, possa ser escalonado para centros terciários da doença em todo o país, beneficiando muitos pacientes nesta situação e, potencialmente, os cofres públicos, bem como pacientes com outras doenças que utilizem os mesmos recursos utilizados no tratamento do câncer de próstata.
Vinculado ao objetivo número 1 do Plano Nacional de Saúde, que visa promover a ampliação da oferta de serviços de atenção especializada com vista à qualificação do acesso e redução das desigualdades regionais, o projeto irá implementar um protocolo assistencial de VA em câncer de próstata e avaliar sua implementação e resultados em estudo de coorte prospectiva multicêntrica nacional.
O objetivo é diminuir em 50% o número de intervenções (prostatectomias e/ou radioterapia) em pacientes com câncer de próstata de risco favorável; realizar análise de custo-efetividade da estratégia de VA em relação à cirurgia e radioterapia; avaliar os desfechos oncológicos, qualidade de vida, diferenças étnico-raciais e aspectos econômicos; desenvolver o protocolo assistencial de VA; e capacitar urologistas, radioterapeutas e oncologistas dos centros participantes do estudo em todas as regiões do país.
Em conjunto com o Ministério da Saúde, equipes de centros terciários de todo o Brasil serão selecionadas para participarem de treinamentos de condução do protocolo – ao todo, participarão 10 centros, sendo dois por região. Serão incluídos no estudo e acompanhados ao longo de três anos, cerca de 200 pacientes atendidos nestas unidades que apresentem os critérios para a VA: homens diagnosticados com adenocarcinoma de próstata de baixo risco (Gleason 6, PSA < 10 ng/mL e estadiamento clínico < cT2a).
As consultas médicas serão realizadas semestralmente, bem como exames de PSA (semestral), toque retal (semestral), ressonância nuclear multiparamétrica da próstata (anual) e biópsia da próstata (anual). Além da análise dos dos desfechos clínicos, será realizada uma avaliação de custo-efetividade da implementação desta estratégia assistencial no SUS.
Marina Bessel - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre / RS
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PESQUISADOR RESPONSÁVEL
Pedro Henrique Isaacsson Velho - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre / RS
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PESQUISADORES ASSOCIADOS
Jeziel Basso - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre / RS
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Ricardo Zordan - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre / RS
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Juliana Beust de Lima - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre / RS
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Thais Machado Baptista - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre / RS
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Santiago Alonso Tobar Leitão - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre / RS
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Clênia dos Santos Azevedo – Consultora Técnica Cientifica
COPP/CGFPS - Coordenação de Gestão de Programas de Pesquisa
Decit - Departamento de Ciência e Tecnologia
SECTICS - Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
MS - Ministério da Saúde
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Patrícia de Campos Couto - Analista Técnica de Políticas Sociais
COPP/CGFPS - Coordenação de Gestão de Programas de Pesquisa
Decit - Departamento de Ciência e Tecnologia
SECTICS - Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
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Luciana Hentzy Moraes - Analista Técnica de Políticas Sociais
COPP/CGFPS - Coordenação de Gestão de Programas de Pesquisa
Decit - Departamento de Ciência e Tecnologia
SECTICS - Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
MS - Ministério da Saúde
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