O projeto Onco-Genomas Brasil se propõe a caracterizar o perfil molecular germinativo e somático na população brasileira dos dois cânceres mais prevalentes no Brasil em mulheres (câncer de mama) e em homens (câncer de próstata). O estudo teve início no triênio 2021-2023, e teve sua continuidade aprovada para o triênio 2024-2026. Os resultados do estudo ajudarão a identificar pacientes com variantes genéticas somáticas que possam auxiliar na definição do prognóstico do câncer e variantes genéticas germinativas que possam apoiar estratégias de prevenção de outros tumores.
O projeto é dividido em dois eixos:
- Eixo 1: consiste na coleta de amostras biológicas de 255 pacientes com câncer de mama do subtipo HER2-positivo e 490 pacientes com câncer de mama do subtipo triplo-negativo;
- Eixo 2: consiste na coleta de amostras biológicas de 137 pacientes com câncer de próstata metastático.
O projeto Onco-Genomas contribui com o Programa Genomas Brasil (PGB) para estabelecer as bases para o desenvolvimento nas áreas de Genômica e Saúde de Precisão no Brasil voltado à sua implementação no Sistema Único de Saúde (SUS). O PGB é um programa de ciência, tecnologia e inovação que tem como finalidades incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico nacional; promover o desenvolvimento da indústria genômica nacional; e estabelecer prova de conceito para uma linha de cuidado em genômica e saúde de precisão no âmbito do SUS. Dentre seus principais objetivos se destacam o estabelecimento do genoma de referência da população brasileira e a instituição de um banco nacional de dados genômicos e clínicos. Dentre as suas metas, está o sequenciamento de genes associados a doenças raras, cardíacas, câncer e infectocontagiosas, visando aprimorar o diagnóstico e tratamento dessas condições de saúde no Brasil.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos. A doença é a neoplasia mais comum entre mulheres, após o câncer de pele não-melanoma. Em torno de 20% dos casos de câncer de mama no Brasil possuem superexpressão do receptor HER2 (chamados de tumores HER2-positivos). O tratamento de rotina no sistema público de saúde inclui uma etapa pré- (neoadjuvante) e outra pós-operatório (adjuvante). O tratamento de pacientes que foram operadas e têm câncer de mama HER2-positivo é feito com quimioterapia e 12 meses de tratamento com trastuzumabe (anticorpo monoclonal anti-HER2), com redução de 30% na mortalidade pela doença. Por outro lado, aproximadamente 15% dos tumores de mama são do subtipo biológico triplo-negativo. Neste subtipo de câncer de mama, já é bem caracterizada a maior prevalência de alterações germinativas, especialmente no gene BRCA1. No entanto, esses dados ainda são escassos na população brasileira. Alguns estudos demonstram que o desaparecimento do tumor no momento da cirurgia (resposta patológica completa) após quimioterapia neoadjuvante se associa a menor risco de recidiva nos subtipos HER2-positivos e triplo-negativos. A identificação de perfis moleculares específicos pode auxiliar na identificação de uma população com maiores chances de alcançar resposta patológica completa e melhor prognóstico de doença.
O câncer de próstata é a neoplasia mais comum em homens no Brasil. Em 2020, mais de 65 mil novos casos da doença foram diagnosticados, representando quase 30% dos casos de câncer em homens no país. Apesar de o câncer de próstata ser uma doença curável – com cirurgia ou radioterapia – quando diagnosticada na forma localizada, cerca de 10 a 20% dos pacientes são diagnosticados com metástases ou outros recorrem com doença metastática após o tratamento do tumor primário. A doença metastática é uma patologia grave, incurável e que causa importante impacto na qualidade de vida, especialmente pelas metástases ósseas, que estão presentes em cerca de 90% dos pacientes. A caracterização molecular da população com câncer de próstata metastático é de grande importância para que possam ser planejadas estratégias mais adequadas de tratamento e seguimento dos pacientes. A identificação de alterações genômicas germinativas e somáticas pode auxiliar no entendimento dos fatores associados a pior prognóstico da doença e à sensibilidade a terapias diversas, como bloqueio androgênico, quimioterapia e inibidores de PARP.
Tumores malignos são doenças marcadas por heterogeneidade na sua apresentação. Nas últimas décadas, com os avanços da genômica e biologia molecular, o entendimento de como diferentes assinaturas mutacionais podem influenciar no comportamento biológico, prognóstico e resposta tumoral aos tratamentos é assunto de importância, cada vez mais estudado na oncologia.
O uso de novas tecnologias para sequenciamento genético, como o sequenciamento de todo o genoma (WGS, Whole-Genome Sequencing) ou somente do exoma, possibilitou o conhecimento das alterações moleculares herdadas (germinativas) e adquiridas (somáticas) presentes em diversos tipos de câncer. Esse conhecimento vem impulsionando a chamada oncologia de precisão, em que a identificação de mutações específicas pode ser utilizada para direcionar o tratamento com drogas-alvo. Além disso, a identificação de variantes germinativas em determinados genes de câncer vem auxiliando no rastreio e manejo de síndromes de predisposição hereditária ao câncer.
Dessa forma, o objetivo deste estudo é caracterizar o perfil molecular somático e germinativo na população brasileira dos dois cânceres mais prevalentes no Brasil em mulheres (câncer de mama) e em homens (câncer de próstata). Este projeto é realizado em conjunto com o Ministério da Saúde (MS) através de financiamento via PROADI-SUS.
Entre os objetivos específicos para ambos os eixos, temos:
1. Identificar as alterações genéticas relacionadas ao prognóstico tumoral por meio da análise do exoma completo somático;
2. Rastrear pacientes com mutações em genes predisponentes a câncer e oferecer aconselhamento adequado para os pacientes com variantes genômicas identificadas como patogênicas/provavelmente patogênicas;
3. Gerar dados genômicos e fenotípicos associados para alimentar o banco de dados do Programa Genomas Brasil;
4. Caracterizar a ancestralidade da população estudada de pacientes com câncer de mama e de próstata;
Objetivos específicos referentes exclusivamente às participantes com câncer de mama (eixo 1):
5. Identificar variantes genéticas preditivas de resposta ao tratamento neoadjuvante para pacientes com câncer de mama dos subtipos estudados.
O projeto Onco-Genomas é um estudo de coorte multicêntrico observacional com a obtenção de dados sociodemográficos, história familiar, além de dados clínicos, patológicos e de tratamento. Instituições que atendem pacientes do SUS e possuem Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACONS) ou Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACONS) nas 5 regiões do país participarão do estudo, como estratégia para captar uma amostra de pacientes representativa da heterogeneidade da população brasileira.
O eixo 1 (câncer de mama) consiste na coleta de amostras biológicas de 255 pacientes com câncer de mama do subtipo HER2-positivo localmente avançado e 490 pacientes com câncer de mama do subtipo triplo-negativo. Pacientes com câncer de mama HER2 positivo devem ter realizado tratamento neoadjuvante com quimioterapia associada a trastuzumabe. Já as pacientes com câncer de mama triplo-negativo devem ter realizado tratamento neoadjuvante com quimioterapia sem imunoterapia.
O eixo 2 (câncer de próstata) consiste na coleta de amostras biológicas de 137 pacientes com câncer de próstata metastático. Todos os pacientes deste eixo devem ter diagnóstico de adenocarcinoma de próstata com estádio clínico IV.
Os materiais biológicos do estudo consistem em uma coleta de sangue periférico para realização do sequenciamento genético germinativo, e amostras tumorais em blocos de parafina, previamente coletadas para diagnóstico do câncer, para realização do sequenciamento genético somático. As análises de sequenciamento genômico possibilitam a detecção de alterações moleculares germinativas que possam predispor as pacientes e seus familiares a terem câncer hereditário, além da detecção de alterações somáticas, que são próprias dos tumores (não-hereditárias), ajudando pacientes e médicos com informações importantes que podem definir estratégias de tratamento e seguimento dos pacientes com câncer. Também será possível fazer a avaliação da ancestralidade das pacientes com câncer.
Após o sequenciamento genômico, os dados brutos passarão por uma análise realizada por geneticistas experientes e laudos de pesquisa, tanto do teste germinativo quanto do teste somático, serão emitidos. Nos casos em que alterações germinativas sejam detectadas, teleinterconsultas devem ser realizadas entre os médicos oncologistas assistentes dos centros participantes do SUS e o médico geneticista do estudo, com o objetivo de orientação sobre os achados.
Inclusão de 452 pacientes durante o triênio 2021-2023, sendo 259 com câncer de mama subtipo HER-2 positivo e 193 pacientes com câncer de próstata metastático.
Sequenciamento do exoma germinativo de todas as mulheres com câncer de mama do subtipo HER2-positivo (eixo 1), com a identificação de variantes patogênicas e provavelmente patogênicas em 20,5% da amostra, sendo que 8,8% do total de participantes apresentam alterações em genes associados a maior risco de câncer de mama.
Sequenciamento do exoma germinativo de todos os participantes do eixo 2, com a identificação de variantes patogênicas e provavelmente patogênicas em 14,5% dos homens, dos quais 5,7% estão em genes associados a maior risco de câncer de próstata.
Armazenamento das amostras de DNA germinativo dos participantes, mediante consentimento, para constituição do biobanco do Programa Genomas Brasil.
Análise de ancestralidade de todos os participantes.
Oferta de teleinterconsultas aos centros participantes.
Previsão de finalização do estudo em 31/12/2026.
Daniela Dornelles Rosa (responsável técnico) - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Gabriel de Souza Macedo (responsável técnico) - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Marina Bessel (líder operacional) - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Cláudia Bordignon - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Mahira de Oliveira Lopes da Rosa - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Giovana Tavares dos Santos - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Jaqueline Bohrer Schuch - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Angélica Cerveira de Baumont - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Nathan Araújo Cadore - Hospital Moinhos de Vento - Lattes
Giovana Dallaio Curzel - Hospital Moinhos de Vento - Lattes