A gestação na adolescência se constitui num problema de saúde pública e um desafio para as políticas de Estado. Estatísticas apontam que as complicações na gestação e no parto em jovens entre 15 e 19 anos representam a segunda causa de morte no mundo nessa faixa etária. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) reforça a necessidade de intervir nesse processo, uma vez que essas gestações podem causar danos biopsicossociais nas mães e bebês.
No mundo, principalmente em países de baixa e média renda, estima-se que aconteçam em torno de 1 milhão de partos em adolescentes abaixo de 15 anos e, em torno de 16 milhões de partos, nas jovens entre 15 e 19 anos. O relatório da OPAS/Unicef aponta que a América Latina e o Caribe são as únicas regiões do mundo com uma tendência ascendente de gravidez entre adolescentes com menos de 15 anos, sendo essas regiões com a segunda maior taxa de gravidez na adolescência do mundo (65,5 nascimentos em cada mil adolescentes entre 15 e 19 anos).
Em 2019, no Brasil, segundo o DATASUS, 14% de nascidos vivos (399.922/2.848.662) foram de gestação com idade materna entre 15 e 19 anos – faixa etária considerada de alto risco para as gestantes, fetos e recém-nascidos. Também foram registrados 19.330 nascidos vivos em gestações com idade materna entre 10 e 14 anos.
A gestação na adolescência contribui para ciclos intergeracionais de pobreza e de doença e para a mortalidade materna e infantil. No Brasil, a mortalidade materna atinge quase o dobro da média mundial apesar dos esforços realizados para reduzi-la. Em alguns contextos, como nas gestações em sequência ou com pequenos intervalos, os riscos globais de uma série de eventos desfavoráveis são maiores e extensivos tanto para as mães jovens quanto para seus filhos.
Uma gravidez na adolescência tem consequências na perspectiva de vida com o afastamento da escola e do mercado de trabalho. Isso ocorre em todos os níveis sociais, porém, com maior gravidade nos mais baixos. Destacam-se também problemas de saúde mental, com as gestantes adolescentes apresentando risco maior de depressão, ansiedade e tentativa de suicídio. Este grupo também possui mais riscos de endometriose puerperal e infecções generalizadas, gerando elevados índices de mortalidades, doenças e altos custos para o sistema de saúde.
Nos recém-nascidos de gestantes adolescentes, o risco de prematuridade e baixo peso ao nascer é maior, bem como o risco de uma série de condições neonatais graves que podem resultar em desfechos desfavoráveis. Transtornos relacionados à saúde mental, como por exemplo o Transtorno do Espectro Autista, são mais frequentes e representam outros graves problemas relacionados à gestação na adolescência. As situações de maior vulnerabilidade também envolvem as crianças através de desvantagens nutricionais e educacionais que se estendem do nascimento à infância. Além disso, representam um grupo de risco para negligência e maus-tratos. O cenário estruturado exige um real dimensionamento do problema para que intervenções precoces e específicas possam reduzir esses riscos.
Neste contexto, dentro do sistema de saúde brasileiro, está sendo trazida à discussão uma série de eventos que se interligam. Gestações de maior risco, prematuridade e aumento de taxas de morbimortalidade que impactam não só em custos relacionados diretamente à saúde nesta etapa da vida, mas parecem estender um custo social difícil de ser mensurado isoladamente.
Além das questões de saúde da mãe e do bebê, existe um impacto socioeconômico elevado da gestação não-intencional na adolescência. Esse impacto ocorre para a mãe, para o sistema de saúde e para a economia do país como um todo. Citando apenas um exemplo no relatório "Situação da População Mundial", do Fundo de População das Nações Unidas, o Brasil teria um aumento de produtividade de US$ 3,5 bilhões se as adolescentes tivessem adiado a gestação até os 20 anos.
O projeto “Adolescentes Mães – O impacto da gravidez precoce” irá avaliar adolescentes mães (entre 10 e 20 anos incompletos) e sua respectiva prole (bebês de 12 a 18 meses de idade), comparando essas jovens em relação a mães adultas (entre 20 e 30 anos incompletos).
O objetivo é avaliar o perfil biopsicossocial, com ênfase em saúde mental (depressão e ansiedade) de mães adolescentes em uma capital de cada região do Brasil (Porto Alegre, Rio De Janeiro, Manaus, São Luís e Campo Grande). Serão investigados os fatores de risco associados à gestação na adolescência e de suscetibilidade a complicações gestacionais, enquanto serão comparadas as características de desenvolvimento das crianças nascidas de mães adolescentes e mães adultas.
O estudo vai, também, avaliar o impacto orçamentário da gestação na adolescência na perspectiva do sistema público de saúde brasileiro e, com isso, subsidiar os gestores de saúde com mais informações para o planejamento das políticas públicas e otimização dos recursos. Trata-se de um estudo econômico retrospectivo, com coleta de dados secundários. De forma simples podemos dizer que o impacto orçamentário é, basicamente, a diferença entre os custos dos dois cenários, um cenário de referência e um cenário alternativo. O cenário de referência deste estudo consiste em uma representação da realidade atual da gestação em jovens adultas. Já o cenário alternativo a ser considerado para essa análise, consiste em uma representação da realidade atual da gestação em adolescentes.
Ademais, um terceiro eixo faz parte do projeto, onde pretende-se avaliar níveis de biomarcadores e sua associação com o desenvolvimento de complicações hipertensivas na gravidez em gestantes adolescentes que realizam seu pré-natal no ambulatório do Programa de Assistência Integral à Gestante Adolescente (PAIGA) da instituição Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV). Sendo esse um estudo de coorte prospectivo que avaliará as possíveis complicações na gestação e/ou desfechos materno-fetais desfavoráveis em adolescentes.
Além disso, oferecerá capacitação aos profissionais de saúde da atenção primária que atuam na assistência no Brasil inteiro, através de um curso que irá abordar a temática da educação abrangente em sexualidade e planejamento familiar na adolescência. O curso será ofertado na modalidade da educação a distância (EAD), autoinstrucional e contará com o total de 20 horas-aula. Também serão produzidos materiais educativos dirigidos a adolescentes, familiares e comunidade, que serão desenvolvidos por especialistas do Hospital Moinhos de Vento.
Através de diversas ações, o projeto permitirá um olhar ampliado para as características das adolescentes gestantes e lactentes em conjunto com a relação mãe-bebê. Como consequência, essa análise pode colaborar com futuras políticas de intervenção para prevenir o risco de danos à saúde da mãe adolescente e seu filho. Podendo auxiliar na estratificação de risco das gestantes, permitindo a melhor alocação de recursos na rede de saúde; no diagnóstico precoce de complicações materno-fetais; além de possuir potencial prognóstico para desfechos materno-fetais desfavoráveis que poderão auxiliar na tomada de decisões clínicas. O encerramento das ações está previsto para o segundo semestre de 2023. O projeto é alinhado ao fortalecimento das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde e da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança.
Para tal, os hospitais participantes hão de prover uma listagem com o contato de mulheres que realizaram seu parto no período de 01/06/2021 e 31/12/2021. As mesmas serão convidadas a participar do estudo, sendo combinada a visita de um entrevistador, conforme apresentado na imagem a seguir.
A amostragem será não probabilística (por conveniência) sendo todos os nascimentos avaliados em ordem sequencial, e separados em dois grupos de idades maternas. Considerando um estudo transversal para avaliação de depressão e ansiedade como desfecho principal, a partir de dados atribuídos com poder amostral de 80%, nível de significância de 5%, e uma estimativa de prevalência do desfecho de 26,3% e diferença aceitável de 5%, um efeito de delineamento de 3,5, foi estimada uma amostra mínima de 1.042 participantes de pesquisa. Adicionando-se 10% para possíveis perdas, a amostra pretendida é de 1.146 participantes.
Além da saúde mental, serão avaliados:
Tiago Chagas Dalcin, HMV, http://lattes.cnpq.br/4833038159556206
Amanda Ferreira de Carvalho (Pesquisadora), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/4656073934427220
Bruna Marmett (Pesquisadora), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/8528279754105898
Carmem Lisiane Escouto de Souza (Consultora Técnica), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/0082836330700686
Daniela Dal Forno Kinalski (Pesquisadora), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/9239710496792305
Júlia Mathias Reis (Pesquisadora), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/5985118788104517
Júlia Scotti Bondan de Freitas (Estagiária), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/5059550568355131
Sérgio Luís Amantéa (Responsável Técnico), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/5913829984538008
Thiago Botter Maio Rocha (Consultor), HMV, Porto Alegre/RS, http://lattes.cnpq.br/8743269058661241
Ezaltina Panziera - Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, Porto Alegre (RS)
Maria Gracimar Oliveira Fecury da Gama - Instituto Dona Lindu, Manaus (AM)
Maria Luiza Alves - Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, Porto Alegre (RS)
Marynea Silva do Vale - Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, São Luís (MA)
Palusa Albuquerque - Hospital Municipal Lourenço Jorge, Rio de Janeiro (RJ)
Paulo Saburo Ito - Hospital Regional De Mato Grosso Do Sul, Campo Grande (MS)
Rossiclei de Souza Pinheiro - Maternidade Estadual Balbina Mestrinho, Manaus (AM)
Coordenação de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente (CACRIAD) Coordenação-Geral de Integração de Redes de Atenção à Saúde (CGIRAS) Departamento de Gestão do Cuidado Integral (DGCI) Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)