Resumo

A sífilis é uma infecção bacteriana causada pelo Treponema pallidum, cuja transmissão ocorre por meio do contato sexual ou durante a gestação (sífilis congênita). Se não for tratada precocemente, pode comprometer vários órgãos e o sistema nervoso central, podendo levar à morte. O número de casos de sífilis tem aumentado consideravelmente em vários países. Seu tratamento é realizado com penicilina, uma medicação de baixo custo. Porém, muitas vezes é necessária a administração de três doses e o acompanhamento do paciente por até dois anos para identificar falhas na resposta ao tratamento.

No Brasil, tem se observado um aumento progressivo tanto nos casos de sífilis congênita quanto de sífilis adquirida. Em 2016, a sífilis foi considerada uma epidemia pelo Ministério da Saúde, sendo Porto Alegre a capital com o maior número de casos registrados. Isso pode ser decorrente de falhas na identificação dos casos (pois inicialmente a sífilis é praticamente assintomática) ou do tratamento (que requer seguimento dos pacientes).

A prevenção da sífilis requer programas de prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) que respondam rapidamente ao aumento do número de casos de sífilis e aumento de esforços de monitoramento da doença. O controle da epidemia depende de estratégias amplas, que devem iniciar pela investigação dos principais fatores responsáveis pelo aumento das taxas de incidência e qualificação de informações epidemiológicas, estratégias de educomunicação e fortalecimentos de parcerias interinstitucionais. 

Dada como prioridade de saúde pública no Brasil, a sífilis necessita de ações de qualificação da atenção à saúde para prevenção, assistência, tratamento e vigilância. Nesse sentido, o projeto foi planejado para identificar os principais fatores associados ao aumento das taxas de incidência de sífilis no Brasil e testar estratégias para ampliar o diagnóstico e o sucesso do tratamento.

As diferentes estratégias a serem testadas no projeto servirão como um piloto, especialmente em termos de logística e integração, mostrando a viabilidade de implementação destas estratégias em outros estados e municípios. 


Introdução

O primeiro estudo trata-se de um ensaio clínico randomizado em que os participantes serão recrutados por uma unidade móvel para a realização de testes de sífilis e HIV, instalada em locais de grande circulação de pessoas. O objetivo é identificar qual a proporção de indivíduos positivos que não sabem ser portadores da doença. Então, os pacientes com resultado positivo para sífilis são divididos entre três estratégias de acompanhamento: via app, via ligação telefônica e acompanhamento convencional. 

Diferentes estratégias de educomunicação serão utilizadas para profissionais de saúde (para a qualificação da atenção prestada) e para participantes (para aumentar o conhecimento e o autocuidado e a responsabilidade sobre o tratamento). Um site com informações de fácil acesso e entendimento será criado para profissionais de saúde e população em geral. Os profissionais de saúde que trabalham na atenção primária serão informados sobre a existência do estudo.

O segundo eixo trata-se de uma avaliação dos processos, recursos e acessibilidade das unidades básicas de saúde. Serão aplicados questionários sobre estrutura, fluxo, com questões sobre a disponibilidade dos testes rápidos e forma de acolhimento, diagnóstico, tratamento e seguimento para a sífilis, além da averiguação de recursos humanos e materiais necessários. Este questionário será aplicado aos gestores das unidades de saúde e aos gestores municipais.

O terceiro é um estudo de intervenção realizado por meio de ligações   telefônicas, controlada historicamente, para incentivar a adesão ao tratamento e ao   acompanhamento   sorológico de pessoas com diagnóstico de sífilis em Porto Alegre. Após a implementação do telemonitoramento por telefone, os indicadores de adesão ao tratamento serão comparados com indicadores dos anos anteriores aos da execução da intervenção. 

Os objetivos do projeto são:

  • Estimar a proporção de casos de sífilis adquirida não diagnosticados na população;
  • Estimar a proporção de casos de sífilis adquirida em diferentes faixas etárias;
  • Identificar lacunas no tratamento usual da sífilis no Sistema Único de Saúde;
  • Avaliar a efetividade de diferentes estratégias de diagnóstico e monitoramento do tratamento;
  • Avaliar o uso do telemonitoramento e uso de App para aumentar o  tratamento e acompanhamento da sífilis e tratamento dos contatos;
  •  

    Benefícios aos SUS:

    Espera-se que o projeto aponte as principais lacunas existentes no diagnóstico, tratamento e monitoramento da sífilis, apontando propostas de controle da doença. As diferentes estratégias a serem testadas no projeto servirão como um piloto, especialmente em termos de logística e integração, mostrando a viabilidade de implementação destas estratégias em outros estados e municípios. Portanto, para termos resposta às hipóteses levantadas é de suma importância a finalização da coleta de dados do projeto iniciado.


    Métodos

  • Ensaio clínico randomizado para avaliação de estratégias de monitoramento do tratamento e seguimento de indivíduos com sífilis:
  • Serão avaliados indivíduos acima de 18 anos que tiverem o teste rápido Treponêmico positivo para sífilis que possa ser contactado por telefone. A abordagem ocorrerá por meio de uma unidade móvel que será posicionada em locais de alto fluxo de pessoas, para a realização de detecção de sífilis. Todos os indivíduos maiores de 18 anos serão convidados a realizar um teste rápido para sífilis na unidade móvel. O participante poderá aguardar e receber seu resultado presencialmente. 

    Para os casos positivos, ao receberem a ligação, receberão aconselhamento e serão orientados a buscar tratamento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Porto Alegre. Além disso, receberão a primeira doses para o tratamento da sífilis na Unidade Móvel. Neste momento, eles serão randomizados para três estratégias de monitoramento do tratamento (já que a completude do tratamento e seguimento posterior é um dos grandes desafios e onde ocorre grandes falhas): monitoramento via aplicativo (gameficação), via central telefônica ou por uma Unidade Básica de Saúde.

  • Avaliação da trajetória de diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com sífilis nas unidades básicas de saúde: avaliação de processo e infraestrutura:
  • Serão avaliadas todas as UBSs de Porto Alegre que estiverem ativas no início da coleta de dados e cuja gestão esteja sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Será aplicado, também, um questionário aos gestores municipais.

    Para a realização deste estudo será necessário avaliar as práticas e orientações que envolvem o diagnóstico e tratamento da sífilis nas Unidades de Atenção Primária à Saúde Para tal, todas as unidades serão visitadas sendo realizada uma entrevista estruturada com um dos funcionários, com questões sobre a disponibilidade dos testes rápidos e forma de acolhimento, diagnóstico, tratamento e seguimento para a sífilis, além da averiguação de recursos humanos e materiais necessários através de um checklist. Também serão avaliadas questões sobre fluxo de referência, nos casos em que as unidades de saúde não disponibilizarem este tipo de serviço e identificar o motivo pelo qual não foi possível a oferta. Todas as entrevistas serão inseridas em plataforma de dados específica para o projeto.

  • Implementação de uma intervenção de temonitoramento dos pacientes com sorologia reagente no município de Porto Alegre:
  • Trata-se de um estudo de intervenção, realizado por meio de ligações telefônicas, controlado historicamente, para incentivar a adesão ao tratamento e ao acompanhamento sorológico de pessoas com diagnóstico de sífilis em Porto Alegre.

    Serão selecionadas pessoas cujo exame de sífilis tenha sido reagente, moradores do município de Porto Alegre, a partir da aprovação do protocolo junto ao CEP da proponente e coparticipantes, com idade superior a 18 anos. Serão excluídas as participantes gestantes no momento do diagnóstico.

    Os indivíduos com sorologia positiva para sífilis incluídos no estudo receberão   uma   intervenção   com   telemedicina.   Bancos   de   dados   com   as   informações   consolidadas   acerca   do   diagnóstico   e   tratamento   de   sífilis   no   município   de   Porto   Alegre   serão   fornecidos   semanalmente   pela   Secretaria   Municipal   de   Saúde. Serão   disponibilizados   pela   Secretaria   Municipal   de   Saúde   de   Porto   Alegre   os   dados   dos   bancos   SINAN   e   ESUS, além   das   informações   frente   a   dispensação   do   teste   rápido   e   informações   do   LACEN   Municipal.

    Os indivíduos serão contatados por telefone e receberão lembretes para a realização do tratamento, notificação de parceiros e monitoramento sorológico. Da mesma forma, as informações serão conferidas junto ao próprio participante após a data prevista de tratamento/acompanhamento e junto aos bancos de dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.  


    Resultados

  • Realizado mais de 10.800 testes de diagnóstico para infecções sexualmente transmissíveis (sífilis, HIV, hepatite B e C) e 1.000 coletas sorológicas em casos reagentes (VDRL e RPR).
  • Resultado de prevalência de HIV (2,8%) e sífilis adquirida (7,9%) na população.
  • Administrada a primeira dose de penicilina G benzatina nos participantes reagentes para sífilis.
  • Fornecimento de materiais educacionais sobre IST e preservativos.
  • Realização de um Ensaio Clínico Randomizado que monitorou o seguimento em pacientes positivos para sífilis através de aplicativo, ligações telefônicas ou tratamento usual (unidade de saúde).
  • 51% dos participantes concluíram o tratamento e não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre as formas de monitoramento avaliadas.
  • Ampliação do conhecimento sobre estratégias específicas para o manejo e monitoramento da sífilis.

  • Equipe

    • Hospital Moinhos de Vento

      Liderança

      Vanessa Martins de Oliveira - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre


      Equipe

      Caren Oliveira - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre  Eliana Márcia Da Ros Wendland - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre                                                    Emerson Silveira de Brito - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre                                                          Fernando Hayashi - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre                                                                       Giovana Curzel - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre                                                                              Luana Giongo Pedrotti - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre Madelaine Correia de Oliveira - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre Michele Paula Pretto - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre Raul Correa da Silva  - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre                                                                           Sofia Aguer - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre Suelen Porto Basgalupp - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre Thaís Jacobsen Duarte - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre Thayane Martins Dornelles - Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre


      Colaboração

      Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre - SMSPA


      Área Técnica

      Departamento de Vigilância Prevenção e Controle das IST, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais (DDAHV) Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)


    Indicadores

    374
    Quantidade de atendimentos
    realizados
    27
    Quantidade de profissionais
    envolvidos em pesquisa
    10540
    Quantidade de participantes
    envolvidos na pesquisa

    Instituições

    • Porto Alegre

      hospital moinhos de vento

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