A resolução nº 2.314/2022, do Conselho Federal de Medicina (CFM), define e regulamenta a telemedicina no Brasil como forma de serviços médicos mediados por tecnologias e de comunicação, sendo o exercício da medicina mediado por Tecnologias Digitais, de Informação e de Comunicação (TDICs), para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças e lesões, gestão e promoção de saúde”, podendo ser realizada em tempo real on-line (síncrona), ou off-line (assíncrona). O uso dessa tecnologia como ferramenta para viabilizar oferta de serviços em saúde, bem como educação, treinamento e apoio clínico aos profissionais do setor vem crescendo, sendo rotineiramente oferecida nos países desenvolvidos.
O Brasil oferece oportunidades ímpares para o desenvolvimento da telemedicina na efetivação do direito à saúde universal, integral e equânime, conforme os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Por ser um país de magnitude continental, tem milhares de locais isolados e de difícil acesso, ocasionando uma distribuição extremamente desigual de recursos médicos de boa qualidade. Os esforços dos governos estaduais e federal na implementação da telemedicina consubstanciam essa perspectiva.
No caso das Unidades de Terapia Intensiva (UTI), por exemplo, muitas unidades do SUS carecem de médicos especialistas em terapia intensiva, assim como a equipe multidisciplinar, apesar da evidência de que o tratamento especializado reduz a taxa de mortalidade. Além disso, muitas UTIs que contam com médicos intensivistas não dispõem de apoio para discussão de casos complexos nas mais diversas especialidades, como radiologia, cardiologia, endocrinologia, neurologia, entre outras. A importância de uma formação qualificada dos intensivistas que lideram as UTIs têm sido comprovada em estudos que apontam para melhores resultados, como a redução no tempo de internação, redução de infecções associadas ao uso de dispositivos invasivos, redução de mortalidade, entre outros fatores.
A falta de especialistas é uma realidade em muitas UTIs do Brasil e os recursos humanos são fundamentais para melhorar o desempenho, seja em qualidade assistencial ou gerencial. Um recente levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística reafirma a má distribuição de leitos de UTI, equipamentos médicos e equipes assistenciais (Agência IBGE, 2020). Em relação às UTI Pediátricas, há relatos de unidades que dispunham de apenas 27% dos seus médicos com formação específica, e desses, apenas 17% possuíam o título de especialista. A importância da formação específica e qualificada dos intensivistas que lideram as UTIs tem sido comprovada em diversos estudos que apontam melhores resultados em indicadores assistenciais.
Com base neste cenário, o projeto busca utilizar a telemedicina sob forma de telerrounds multiprofissionais para Educação à Distância (EaD), treinamentos e discussão de casos clínicos em UTI remotas, visando a sistematização do atendimento, a qualificação do cuidado e a redução de riscos para os pacientes internados nas UTI parceiras. A expectativa é garantir a melhora nos indicadores clínicos-assistenciais das UTIs acompanhadas, como, por exemplo, redução da mortalidade, redução do tempo de internação e redução de infecções.
O projeto iniciou suas atividades no triênio 2018-2020, atuando exclusivamente em UTI Pediátricas, mas, por demandas do Ministérios da Saúde, agregou novas unidades com perfil neonatal e adulto.
As equipes multidisciplinares das UTI do Hospital Moinhos de Vento realizam rounds clínicos diários com as UTI dos centros remotos por meio de equipamento de telemedicina, o que permite a avaliação remota de cada paciente em conjunto com a equipe médico-assistencial local. Além da discussão diária dos casos, a equipe do Moinhos de Vento disponibiliza consultoria de especialistas para tratar de casos complexos. Também são desenvolvidas atividades de educação continuada, através de videoaulas com temas específicos conforme a necessidade dos centros e discussão de casos complexos, com a participação de profissionais especialistas do HMV e disponibilização de literatura científica atualizada vinculados ao tema para debate. Além do desenvolvimento de cursos EaD específicos voltados para qualificação das equipes de terapia intensiva pediátrica.
Para a execução dos telerrounds, uma sala de comando foi estruturada no Hospital Moinhos de Vento, de onde o médico e enfermeira intensivistas lideram os rounds à distância com as UTI remotas. Nas UTI remotas, um cart de telemedicina contendo sistema de áudio e câmera de alta definição, e um computador, é utilizado para a conexão nos telerrounds e a avaliação dos pacientes internados. Os telerrounds são realizados diariamente, de 2ª a 6ª feira, em horário previamente estabelecido entre ambas as equipes.
Além da equipe diária, participam também, semanalmente, médicos radiologista e infectologista. Ainda, conforme demanda dos pacientes internados nas UTI remotas, médicos especialistas do Moinhos de Vento, como cardiologista, neurologista, gastroenterologista, pneumologista e cirurgião, poderão participar dos telerrounds apoiando discussões de casos clínicos, bem como equipe multidisciplinar, fisioterapia, nutricionista, psicóloga e assistente social. São oferecidas capacitações mensais a distância com tutoria especializada, a fim de contribuir na qualificação da equipe assistencial.
Para mensurar o impacto do projeto, um estudo do tipo antes e depois foi conduzido para avaliar a melhora dos indicadores assistenciais com o uso da telemedicina nas UTI Pediátricas (UTIP) participantes. Para isso, foram revisados os prontuários médicos de todas as crianças internadas nas UTIP participantes no período pré (12 meses) e pós-implementação (18 meses) do serviço de telemedicina. Também foi avaliado o impacto da telemedicina nos profissionais de saúde das UTIP remotas sob duas óticas: I. Impacto educacional - pela avaliação do desempenho desses profissionais nos cursos à distância ofertados - e, II. Avaliação da Síndrome de Burnout - por meio de questionário específico.
Liderança de projeto: Tais de Campos Moreira – Hospital Moinhos de Vento
E-mail: tais.moreira@hmv.org.br
Telefone: (51) 99106-0345
Gerência Médica Saúde Digital: Felipe Cézar Cabral - Hospital Moinhos de Vento
Responsabilidade Técnica: Aristóteles de Almeida Pires - Hospital Moinhos de Vento
Equipe: Daniella Cunha Birriel - Hospital Moinhos de Vento, Bárbara Simionato - Hospital Moinhos de Vento, Ana Paula Zaupa, Hospital Moinhos de Vento, Luciane Gomes da Cunha – Hospital Moinhos de Vento, Marola Flores da Cunha Scheeren – Hospital Moinhos de Vento, Márcio Silva - Hospital Moinhos de Vento, Hilda Maria Constant - Hospital Moinhos de Vento, Jacqueline Castro da Rocha - Hospital Moinhos de Vento, Maria Eulália Vinadé, - Hospital Moinhos de Vento.
IHospital Regional Norte, Sobral, CE
Hospital Geral de Palmas Dr. Francisco Ayres, Palmas, TO
Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, Campina Grande, PB
Hospital Doutor José Pedro Bezerra, Natal, RN
Hospital Regional Norte Pioneiro, Santo Antônio da Platina, PR
Hospital Clementino Moura - Socorrão II, São Luis - MA
Hospital Leo Orsi Bernardes - Itapetininga - SP
Hospital e Maternidade Santa Isabel - Aracajú - SE
Ministério da Saúde, Brasília, DF
Departamento de Saúde Digital (DESD)
Secretaria Executiva (SE)