Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente, 17 milhões de pessoas morrem antes de completar 70 anos devido a Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), com a maioria dos óbitos ocorrendo em países de baixa e média renda. As doenças cardiovasculares são as principais causas de mortes, seguidas pelo câncer, doenças respiratórias e diabetes. Fatores como tabagismo, falta de atividade física, consumo excessivo de álcool, má alimentação e poluição do ar aumentam consideravelmente estes riscos.
A idade média das pessoas vivendo com HIV e Aids pode aumentar de 44 anos em 2010 para 60 anos em 2035, ao passo que a incidência de doenças do coração deverá triplicar. Entre as pessoas que vivem com HIV/Aids, as DCNT aparecem cerca de dez anos mais cedo, influenciadas pela condição, tratamento e estilo de vida. E estes pacientes têm o dobro de chances de desenvolver problemas cardíacos em comparação a quem não tem, fato que reforça a necessidade de integrar os cuidados de saúde para DCNT e HIV no Brasil.
Assim, o projeto, intitulado BRAVO (BRazilian non-communicAble disease evaluation in HIV/AIDS pOpulation), anteriormente DCNT-PVHA, realizará uma pesquisa de interesse público em Saúde para compreender as demandas dessa população e fornecer dados cruciais para a formulação de políticas de saúde efetivas.
Por meio de um estudo nacional, o projeto buscará identificar a distribuição de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), transtornos mentais, violência física e fatores de risco em pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) no Brasil, para orientar políticas públicas e estratégias de saúde mais eficazes.
Entre os objetivos que o BRAVO pretende alcançar estão: determinar a prevalência e incidência dessas condições, avaliar fatores de risco e eventos adversos à terapia antirretroviral (TARV) e estabelecer uma rede colaborativa que possibilite acompanhar pacientes a longo prazo. Importante ressaltar que esta proposta está alinhada com os objetivos do Plano Nacional de Saúde 2024-2027 e com as políticas públicas voltadas à redução de desigualdades de saúde e ao fortalecimento de ações de prevenção e controle de doenças no Sistema Único de Saúde (SUS).
Implementar cuidados integrais que considerem as interações entre HIV, envelhecimento e DCNT/transtornos mentais é complexo e demanda abordagens interdisciplinares. Além disso, o projeto enfrenta desafios relacionados ao estigma do HIV. A colaboração contínua entre centros de atendimento e o uso eficaz de dados para informar políticas públicas são cruciais, assim como garantir equidade no acesso aos serviços propostos.
Como benefícios para o SUS, o projeto trará dados robustos e atualizados sobre a interseção entre HIV, envelhecimento e DCNT/transtornos mentais, que ajudarão no desenvolvimento de políticas de saúde mais eficazes. A análise dos fatores de risco e a avaliação da qualidade de vida contribuirão para uma visão integral da saúde das PVHA, permitindo a formulação de estratégias de prevenção e cuidado mais direcionadas. A criação de uma rede colaborativa de centros de atendimento especializado para acompanhamento de longo prazo permitirá um monitoramento mais efetivo e a troca de boas práticas. Além disso, os resultados e relatórios gerados pelo projeto serão essenciais para aprimorar políticas públicas, fortalecendo o sistema e melhorando o atendimento prestado a essa população específica.
O estudo previsto dentro do projeto terá dois componentes: na parte transversal, que durará 18 meses, serão coletados dados como idade, hábitos e exames físicos dos participantes, além de amostras de sangue e na longitudinal, que durará 18 meses ou mais, serão monitorados novos diagnósticos de doenças crônicas e transtornos mentais. A pesquisa incluirá cerca de 20 centros de todas as regiões do Brasil, e ocorrerá no triênio de 2024 a 2026.