Resumo

Perdendo apenas para as doenças do aparelho circulatório e o câncer, as mortes ocorridas pelas chamadas “causas externas” - como acidentes de trânsito, queimaduras e homicídios, entre outros - são a terceira maior causa de óbitos no Brasil, correspondendo a 12,9% de todas as mortes registradas, segundo apontam dados do Ministério da Saúde (MS). Desse modo, a violência e os acidentes impõem uma importante sobrecarga aos sistemas de saúde, gerando um impacto econômico e social substancial ao país.

No triênio 2021-2023, o projeto TRAUMA buscou integrar e compartilhar informações entre os serviços de atendimento por meio de uma base de dados unificada, atualizada instantaneamente e usando um protocolo padrão de envio e consulta de dados (API) pelos sistemas de registro de vítimas de causas externas atendidas por serviços de urgência e emergência, que poderiam ou não evoluir para internação ou óbito. Os registros continham informações qualificadas e oportunas sobre lesões por violências e acidentes, que serviam de apoio para o atendimento e a gestão. Isso permitiram melhorar o atendimento e embasar políticas públicas.

Para avançar na vigilância das violências e acidentes no Brasil, o projeto TRAUMA II, no triênio 2024-2026, expandirá os locais e fontes para coleta de informações e realizará manutenção e melhorias nos serviços em nuvem, fluxo de dados e interoperabilidade. Esta nova fase incluirá a internalização da ferramenta no DATASUS, ou seja, a equipe do órgão poderá assumir a operação e manutenção contínua da ferramenta ou sistema desenvolvido, e infraestrutura e a nacionalização dos dados. Além disso, apoiará o desenvolvimento do E-SUS Urgências, proporcionando soluções de TI para a atenção pré-hospitalar.

As entregas previstas nesta segunda etapa do projeto TRAUMA tratam de:

  • Converter o GPSUS em E-SUS Urgências: transferir o código-fonte da Gestão de Pacientes do SUS (GPSUS) para o ambiente do Datasus, desenvolver o E-SUS Urgências e entregar uma solução produtiva.
  • Ampliar os locais de atuação e fontes de dados: expandir a captação de dados com apoio de entidades como Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) e o Terceiro Setor.
  • Arquitetura e Infraestrutura: melhorar a plataforma de serviços em nuvem e criar um guia para sua conversão para um ambiente on-premise (os sistemas e dados são mantidos e gerenciados fisicamente nos servidores locais, ao invés de estarem em servidores de terceiros), que oferecem controle completo sobre os sistemas e dados.
  • Melhorar a qualidade dos dados: incorporar algoritmos de qualificação e corrigir inconsistências no fluxo de dados.
  • Estruturar e categorizar informações: refinar a ontologia, ou seja, estruturar e categorizar informações para que possam ser compreendidas e utilizadas de maneira consistente por diferentes sistemas e partes interessadas, e realizar workshops para garantir entendimento pelos profissionais de saúde.
  • Criar painéis de visualização: criar painéis para diferentes perfis de usuários, com funcionalidades de monitoramento e mapeamento de dados.
  • Disseminar: apoiar a internalização do TRAUMA II no Datasus e dos dashboards no Departamento de Monitoramento, Avaliação e Disseminação de Informações Estratégicas em Saúde (DEMAS), órgão do Ministério da Saúde.
  • Acesso centralizado aos dados nacionais: estabelecer acesso a dados no Datasus e implantar compartilhamento via ConectSUS.
  • Site de documentação do projeto: disponibilizar a documentação do projeto em plataforma web, com código-fonte e justificativas de soluções.
  • Análise situacional: desenvolver estudos sobre morbimortalidade e avaliação de impacto do projeto TRAUMA II.

  • Introdução

    Estima-se que mundialmente ocorram cerca de 200 mil assassinatos anuais de jovens de 10 a 29 anos, e que os homicídios são a quarta maior causa de morte nesta faixa etária, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2017, dados do MS registraram 63.748 mortes por agressão no Brasil, com 54,8% das vítimas entre 10 e 29 anos. Já os acidentes de trânsito foram a segunda maior causa de mortes para a faixa etária de 15 a 39 anos, totalizando 18.343 casos.

    De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), instituição pública brasileira vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, os acidentes de trânsito custam cerca de 40 bilhões de reais anuais aos cofres públicos, o que significa cerca de 6% do PIB nacional, impondo uma significativa carga ao Sistema Único de Saúde (SUS) e gerando impacto econômico e social considerável.

    Para o enfrentamento desse problema de saúde pública foi criada a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, que promove a sistematização e ampliação do atendimento pré-hospitalar e monitorização dos acidentes e violências. Entre as iniciativas resultantes, ainda se destacam:

  • Política Nacional de Urgência e Emergência (2003)
  • Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), regulado por diversas portarias desde 2017
  • Rede Nacional de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde (2004)
  • Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes em Serviços Sentinela (Viva, 2006)
  • Projeto Vida no Trânsito (2009), focado na vigilância e intervenção sobre acidentes de trânsito.
  • O Sistema Viva promove a vigilância de violências e acidentes não fatais, mas ainda há lacunas, especialmente quando nos referimos aos dados sobre atendimento pré-hospitalar, gastos do SUS com mortes ocorridas por causas externas e cruzamento de informações com outras fontes de dados. A pandemia também evidenciou a necessidade de melhorar a disponibilidade e qualidade das informações para dar respostas rápidas aos problemas de saúde. Desta forma, ter estratégias de integração de informações é crucial para melhorar a vigilância e o retorno a essas causas.

    Padronizar a coleta de dados para criar um conjunto mínimo de dados que permita monitorar estes eventos só é possível se houver a integração e qualificação das informações sobre causas externas. Isso inclui estabelecer um registro contínuo de ocorrências que integre dados do atendimento pré-hospitalar e hospitalar com informações de sistemas de saúde existentes e setores relacionados.

    Assim, a vigilância de trauma é crucial para prevenir eventos adversos, mas para ser eficaz, deve-se fornecer informações de qualidade e detalhadas que orientem intervenções para a prevenção e melhora da organização dos serviços de saúde. A criação deste registro integrado e interoperável de lesões por causas externas apoia as políticas nacionais e internacionais, incluindo a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade, Política Nacional de Promoção da Saúde, e compromissos internacionais da Agenda 2030 e Década Mundial de Ações pela Segurança Viária.

    O objetivo do projeto Trauma é desenvolver este registro de causas externas que integre informações de sistemas existentes e melhore a qualidade local da informação para ações oportunas, aprimorando políticas públicas e programas de enfrentamento, além de melhorar os serviços de saúde e cumprir compromissos nacionais e internacionais. Ele visa aprimorar a vigilância de acidentes e violências através de análises descritivas e preditivas dos dados locais e públicos, e demonstrar a viabilidade do uso de Big Data e Analytics no SUS. Entre seus benefícios destacam-se:

  • Qualificação do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) no nível local.
  • Produção de dados qualificados para análises sobre fatores causais, qualidade da atenção em saúde e custos dos atendimentos.
  • Geração de evidências para planejamento de serviços de urgência e emergência e desenvolvimento de intervenções locais.
  • Melhorias operacionais e redução de retrabalho no preenchimento dos dados dos atendimentos.
  • Como objetivo geral, o projeto TRAUMA busca nacionalizar o acesso aos dados e internalizar a ferramenta desenvolvida para o MS. O foco é aprimorar a vigilância das causas externas integrando e compartilhando informações de saúde, utilizando uma base de dados unificada e atualizada imediatamente. Isso melhorará a qualidade dos serviços, avaliará e desenhará políticas públicas e melhorará os indicadores de morbidade e mortalidade por trauma.

    Objetivos Específicos:

  • Integrar dados e especificar o compartilhamento de informações entre sistemas de saúde que registram causas externas.
  • Facilitar a visualização das informações integradas.
  • Implantar o TRAUMA no Ministério da Saúde, tornando-o totalmente funcional e interoperável com dados de todo o país.
  • Produzir análises de situação em saúde com base nos dados do TRAUMA.
  • Metas do Plano Nacional de Saúde:

  • Ampliar os serviços da atenção especializada para qualificar o acesso e reduzir desigualdades regionais.
  • Reduzir a ocorrência de doenças e agravos passíveis de prevenção e controle.
  • Fomentar a produção do conhecimento científico e promover o acesso equitativo às tecnologias em saúde.
  • Aperfeiçoar a gestão do SUS para garantir acesso a bens e serviços de saúde de qualidade.
  • Políticas Públicas Vinculadas:

  • Plano Nacional de Saúde
  • Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS, 2021)

  • Métodos

    Na fase de ampliação de locais e captação de novas fontes de informação, a equipe do Einstein continuará apoiando o Ministério da Saúde na busca por novos locais com interesse e capacidade técnica para participar do projeto, incluindo a experiência em compartilhamento de dados individualizados. Esta fase vai precisar de apoio de Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), tanto para disseminação da iniciativa quanto para a interlocução com potenciais novos locais de atuação. Na fase de manutenção e melhoria da arquitetura e fluxo de dados, a participação ativa da equipe do Datasus será fundamental para a internalização do sistema TRAUMA.

    A participação do Departamento de Monitoramento, Avaliação e Disseminação de Informações Estratégicas em Saúde (DEMAS) é vital para a internalização e desenvolvimento dos painéis criados dentro do projeto. A equipe da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), como usuários finais, também terá papel ativo no progresso desses painéis.

    Para gestão do projeto, as equipes adotarão a metodologia ágil SCRUM, amplamente usada no desenvolvimento de software. A justificativa para o uso do SCRUM neste projeto é a flexibilidade para rediscutir e priorizar frentes de trabalho durante a execução, sem impactar os resultados. A gestão SCRUM inclui quatro ritos:

  • uma reunião de planejamento para definir metas e atividades;
  • reuniões internas para alinhar o progresso e remover impedimentos;
  • uma review com a SVSA para apresentar os avanços e revisar cronogramas e
  • uma retrospectiva para avaliar acertos e identificar melhorias ao final de cada sprint.
  • Assim, o projeto será executado de 2024 a 2026, com sprints de aproximadamente 4 semanas cada, incluindo sprints iniciais e finais, e possíveis sprints adicionais conforme necessidade.


    Resultados

    Os resultados esperados incluem a nacionalização do acesso aos dados sobre causas externas por meio da implantação da plataforma TRAUMA no Ministério da Saúde. Espera-se a integração e o compartilhamento de informações entre sistemas de saúde, gerando análises de situação em saúde, além de melhorias na vigilância, na qualidade dos serviços e no desenho de políticas públicas relacionadas a traumas, com impacto nos indicadores de morbidade e mortalidade.


    Equipe

    • Hospital Israelita Albert Einstein





    Indicadores

    20
    Quantidade de profissionais
    envolvidos em atividades de gestão

    Instituições

    • Brasília

      secretaria de vigilância em saúde e ambiente (svsa)

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