Resumo

Visando melhorar a saúde os povos indígenas, no triênio 2024-2026 será desenvolvido, em parceria com a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), o projeto Vigilância Ambiental e Saúde Indígena (VIGIAMBSI). Seu primeiro eixo de atuação contempla o desenvolvimento de uma plataforma digital para coleta e armazenamento de dados de vigilância ambiental (monitoramento da água, saneamento, resíduos sólidos, dentre outros) com o propósito de disponibilizar e integrar estes dados com dados de saúde para os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) e para a gestão no nível central, a SESAI.

Atualmente, estas informações se encontram em planilhas, dificultando uma análise completa do cenário e a tomada de decisões de ações na área de vigilância ambiental, em tempo oportuno, o que impacta diretamente a saúde da população indígena e dos seus territórios. O projeto também incluirá a transferência de conhecimento para formação de multiplicadores e orientação das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) na coleta e análise destes dados.

Já o segundo eixo previsto trata de uma análise territorial quanto as condições de solo e água em localidades priorizadas pela SESAI. O objetivo é identificar os microrganismos e a presença de metais que possam representar riscos à saúde das comunidades indígenas. Isso envolve análises moleculares e químicas em amostras ambientais coletadas dentro das localidades onde estas populações vivem. Esse eixo abrangerá dez DSEIs selecionados pela SESAI e visa fornecer bases científicas para melhorar as políticas e programas de saúde e saneamento em territórios indígenas.


Introdução

De forma geral, o objetivo do VIGIAMBSI é o desenvolvimento de uma plataforma de integração de dados de saneamento, qualidade da água e saúde que será utilizada na rotina de trabalho dos profissionais dos DSEIs; e analisar amostras ambientais visando fornecer subsídios para o planejamento de ações de saúde e vigilância ambiental nos territórios indígenas.

A Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena (PNASPI), estabelecida em 2004, organiza o SASISUS em 34 DSEIs, responsáveis por planejar e executar ações de atenção primária e saneamento por meio de Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI). Esta tem como diretriz principal a Atenção Diferenciada para “garantir aos povos indígenas o acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política de modo a favorecer a superação dos fatores que tornam essa população mais vulnerável aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o direito desses povos à sua cultura”. Neste contexto de construção e organização de atenção à saúde em territórios indígenas, o projeto enfrentará desafios relacionados ao desenvolvimento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASISUS), criado em 1999 para organizar e atender as necessidades de saúde dos povos indígenas. Dentre os desafios identificados, que dialogam com o VIGIAMBSI, podem ser citados:

  • Saneamento e Água: A PNASPI tem como diretriz a Promoção de Ambientes Saudáveis e Proteção à Saúde Indígena, com destaque para a preservação de fontes de água limpa, construção de poços, sistemas de esgotamento sanitário e controle da poluição. O 1º Inquérito Nacional de Saúde Indígena publicado em 2009 mostrou que 63% dos domicílios utilizam fossas rudimentares e 55%, obtêm água de poços artesianos sem tratamento.
  • Saúde e Doenças: Em relação à população geral, as condições de saúde dos indígenas são desiguais. A qualidade da água e de saneamento básico estão associadas a doenças infecciosas e parasitárias, uma das principais causas de mortalidade desta população. A mortalidade infantil por doenças evitáveis, como diarreia, é  um problema relacionado à qualidade da água e saneamento.
  • Diversidade: A diversidade cultural e as diferentes condições ambientais e territoriais dos povos indígenas que vivem no Brasil é um desafio para os profissionais e gestores da área da saúde.
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    Assim, o VIGIAMBSI busca minimizar estas questões, e para isso usará a coleta e análise de dados ambientais, buscando chegar à base sólida que ajudará na formulação de políticas públicas eficazes, visando melhorar a saúde e o bem-estar nas comunidades indígenas com a promoção de ambientes saudáveis.

     

    O projeto aturará em duas frentes principais:

    Desenvolvimento e Integração de Dados

    Objetivo Principal: Desenvolvimento de plataforma de integração de dados de saneamento, qualidade da água e saúde, que será utilizada pelos profissionais dos DSEIs em suas rotinas de trabalho. 

    Objetivos Específicos:

    Análise da Aplicabilidade da Portaria de Potabilidade da Água no contexto da saúde indígena:

  • Avaliar a aplicabilidade dos parâmetros de potabilidade da água nas comunidades indígenas, incluindo parâmetros físico-químicos, microbiológicos e biológicos.
  • Identificar lacunas e propor melhorias, com resultados documentados em um relatório técnico-científico.
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    Integração de Dados:

  • Levantar requisitos e construir uma plataforma para coletar e armazenas dados de vigilância ambiental (saneamento, qualidade da água, resíduos sólidos, dentre outros).
  • Integrar esses dados com informações de saúde dos territórios indígenas já coletados no Sistema de Informação de Atenção à Saúde Indígena (SIASI). 
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    Transferência de Conhecimento:

  • Criar materiais de educação em saúde para as comunidades indígenas sobre as temáticas relacionadas à vigilância ambiental.
  • Criar material autoinstrucional para ser utilizado por todos os profissionais do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena para uso da plataforma que será desenvolvida, com foco na coleta e análise de dados.
  • Formar 300 multiplicadores para uso da plataforma que será desenvolvida, com foco na orientação dos demais profissionais do SASISUS em coleta e análise dos dados.
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    Avaliação da Qualidade Ambiental:

  • Coletar e analisar amostras de água e solo para detectar patógenos (vírus, bactérias, fungos, protozoários ou parasitas), caracterizar o microbioma deste ambiente e identificar a presença de metais nos locais designados.
  • Identificar possíveis fontes de contaminação e avaliar os riscos à saúde das comunidades.
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    Workshops e Devolutivas:

  • Apresentar os resultados em workshops com a SESAI, DSEIs e EMSI, e em congressos especializados.
  • Compartilhar os resultados com o Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena (FPCONDISI) e nas reuniões dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena (CONDISI) dos DSEIs onde ocorrerá a coleta de amostras ambientais.
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    Objetivos e Metas

    Plano Nacional de Saúde 2024-2027:

  • Objetivo 6: Melhorar a oferta de ações e serviços de saúde e saneamento ambiental para a população indígena, considerando os diferentes contextos étnico-culturais da população indígena, em articulação e fortalecimento dos saberes e práticas tradicionais.
  • Meta 11: Aumentar a proporção de DSEIs com monitoramento sistemático dos indicadores de saúde.
  • Meta 13: Ampliar a coleta e análise de água para consumo humano nas aldeias.
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    Programa 5122 – Saúde Indígena do PPA 2024-2027:

    Objetivo Geral: Promover e qualificar a oferta de ações e serviços de saúde e saneamento ambiental, considerando os diferentes contextos étnico-culturais da população indígena, em articulação e fortalecimento dos saberes e práticas tradicionais.

     

    Objetivos Específicos:

  • Reduzir a mortalidade infantil indígena por causas evitáveis.
  • Garantir acesso a água para consumo humano em aldeias indígenas.
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    As ações do projeto estão vinculadas à Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), Diretriz 8, que trata da promoção de ambientes saudáveis e proteção à saúde indígena e à Política Nacional de Vigilância em Saúde.

     

    Os benefícios que o projeto trará para o SUS, principalmente no âmbito do SASISUS, incluem:

  • Melhoria no monitoramento da qualidade da água e do saneamento básico nas comunidades indígenas, o que reduz o risco de doenças e permite intervenções mais rápidas e eficazes.
  • Qualificação de profissionais do SASISUS em coleta e análise de dados, que aprimorará o  planejamento de ações, ajudando a reduzir doenças infecciosas e parasitárias e aumentando a qualidade e a expectativa de vida das populações indígenas.
  • Ampliação do conhecimento científico sobre as condições ambientais nas comunidades indígenas, ajudando a formular políticas públicas mais eficazes.
  • Fortalecimento na colaboração e integração entre os diferentes setores envolvidos na promoção da saúde indígena.

  • Métodos

    O projeto está estruturado em entregas comuns e seis entregas específicas. As entregas comuns incluem documentação de resultados e compartilhamento de conhecimento técnico por meio de oficinas e materiais de comunicação. Já entregas específicas tratam de:

  • Análise da Portaria de Potabilidade da Água: Identificar e visitar protocolos nacionais e internacionais de monitoramento da qualidade da água quanto aos parâmetros físico-químicos, microbiológicos e biológicos já utilizados. Avaliar a aplicabilidade dos parâmetros em diferentes contextos em que se localizam as comunidades indígenas no Brasil. Identificar lacunas e propor recomendações para aprimoramento.
  • Integração de Dados: Levantamento de requisitos em relação aos processos de coleta de dados e sistemas de informações já implantados e contextualização da solução que será desenvolvida; sistematização dos processos de armazenamento e compartilhamento e transmissão de informações sobre saneamento e qualidade da água, de modo que possibilite sua análise e sua integração com dados se saúde do Sistema de Informação em Saúde Indígena (SIASI).
  • Transferência de Conhecimento: Elaboração de material didático autoinstrucional para qualificação da coleta e análise de dados de saneamento e qualidade da água com dados epidemiológicos de saúde; transferência de conhecimento a profissionais de todos os níveis de gestão e atenção à saúde do SASISUS para atuar como multiplicadores na aplicação da qualificação autoinstrucional.
  • Avaliação da Qualidade Ambiental: Realizar análises moleculares e químicas em amostras de água e solo de comunidades indígenas que serão coletadas em parceria com os Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN) e demais profissionais das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena. Serão realizadas as análises: metagenômica para avaliar o conjunto completo de material genético (genes) de todos os microrganismos presentes; viroma para identificar vírus; microbioma para identificar microrganismos (bactérias, fungos entre outros) presentes em amostras ambientais; e análise de metais em concentrações traço e ultra traço. Com isto, pode-se identificar a presença de patógenos, resistência a antibióticos e outros marcadores relevantes para a saúde pública.
  • Workshop e Publicações: Apresentar os resultados do projeto a SESAI, DSEIs e Polos Bases, além de outros órgãos relevantes e publicar descobertas científicas para avançar o conhecimento sobre saúde indígena.
  • Devolutiva no Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena (FPCONDISI): Apresentar os resultados do projeto às comunidades indígenas por meio de apresentação presencial no FPCONDISI e compromisso de apresentação de modo virtual nos CONDISIs dos DSEIs onde ocorrerão as coletas de amostras ambientais.

  • Resultados

    O projeto visa o desenvolvimento de uma plataforma de coleta, armazenamento e integração de dados de vigilância ambiental (monitoramento da água, saneamento, resíduos sólidos, dentre outros) e saúde que será utilizada na rotina de trabalho dos profissionais dos DSEIs; e analisar amostras ambientais em 10 DSEIs visando fornecer subsídios para o planejamento de ações em vigilância ambiental da população.


    Equipe

    • Hospital Israelita Albert Einstein





    Indicadores

    9
    Quantidade de profissionais
    envolvidos em atividades de gestão

    Instituições

    • São Paulo

      hospital israelita albert einstein

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