Resumo

No âmbito da saúde pública brasileira, alguns problemas são considerados prioritários, com índices importantes de morbidade e mortalidade e, por isso, motivam a execução de programas específicos de vigilância (ações que visam controlar riscos e danos à saúde), prevenção, diagnóstico e tratamento, conforme diretrizes elaboradas pelo Ministério da Saúde (MS). É o caso da infecção pelo HIV/Aids, das hepatites virais, das Infecções sexualmente transmissíveis (IST) e da tuberculose.

A partir da década de 1980, o então Programa Nacional de DST/Aids (Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e IST - DATHI), da Secretaria de Vigilância em Saúde em Ambiente (SVSA), vinculado ao MS, estimulou a implantação de Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) com o objetivo de oferecer a testagem gratuita, confidencial e anônima e do aconselhamento em IST/Aids, com uma abordagem de educação em saúde e de redução de riscos e vulnerabilidades.

Com a disseminação das tecnologias e oferta de diagnóstico para a rede de atenção básica, observou-se certa descaracterização dos CTA, principalmente quanto à prioridade de atendimento às populações vulneráveis, diminuindo assim sua capacidade operacional. Desta forma, gerou-se uma desarticulação entre esse serviço e outros pontos de atenção no SUS, contribuindo para a fragmentação do cuidado integral. Em paralelo, as mudanças do contexto epidemiológico das doenças transmissíveis, em particular as que apresentam condições crônicas, exigem uma nova organização dos serviços de saúde. Neste sentido, é muito importante a ampliação da carteira de serviços e uma melhor integração do CTA na Rede de Atenção à Saúde (RAS), melhorando o acesso o cuidado integral de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA), hepatites virais, IST e tuberculose.

Neste contexto, espera-se que os CTA possam atuar de forma integrada com a RAS, em especial a Atenção Primária e, ao mesmo tempo, absorver as inovações tecnológicas e os paradigmas da prevenção combinada, como, por exemplo, a ampliação do acesso ao tratamento antirretroviral (medicamento que impede a multiplicação do HIV no organismo, ajudando a combater a doença e a fortalecer o sistema imunológico) para todas as PVHA com prescrição menos complexa e com medicamentos mais eficazes; a instituição de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que consiste no uso diário de antirretroviral para a prevenção da infecção pelo HIV; a adoção da profilaxia pós-exposição com uso de medicamentos e outras medidas para prevenir a infecção pelo HIV e hepatites virais e por fim, maior acesso ao diagnóstico e tratamento para os agravos como tuberculose, IST e hepatites virais.

Para tanto, é necessário redefinir o papel dos CTA na rede de atenção à saúde, contemplando as diferentes realidades, contextos locais, capacidades de resposta, além de considerar uma articulação entre os serviços básicos e especializados, com o intuito de ofertar o maior nível de resolubilidade possível em relação às necessidades das populações que são atendidas nos serviços.


Introdução

O projeto CTA: Rede de prevenção e cuidado integral de doenças de condições crônicas e infecções sexualmente transmissíveis está vinculado aos seguintes objetivos do Plano Nacional de Saúde (2020-2023):

  • Reduzir a ocorrência de doenças e possíveis agravos por meio da prevenção e controle.
  • Fomentar a produção do conhecimento científico, promovendo o acesso da população às tecnologias em saúde de forma equitativa, igualitária, progressiva e sustentável.
  • Realizar ações que garantam e ampliem o acesso da população a medicamentos e insumos estratégicos, com qualidade, segurança e eficácia, em tempo oportuno, com uso racional.
  • Aperfeiçoar a gestão do SUS visando a garantia do acesso a bens e serviços de saúde equitativos e de qualidade.
  • A iniciativa beneficiará o SUS ao contribuir com a promoção da equidade, integralidade da rede, qualificação dos trabalhadores de saúde, ampliação e melhoria do acesso e da resolubilidade dos serviços e das demandas da área. Além disso, auxilia na racionalização dos recursos e no embasamento de decisões estratégicas, resultando na sistematização dos dados e formulação de novas políticas públicas fundamentadas em evidências científicas.

    Com os serviços trabalhando de forma integrada, será possível proporcionar uma melhor resposta às necessidades dos usuários, aumentando o diagnóstico, reduzindo o tempo entre a detecção da doença e o tratamento, bem como o abandono e perda de oportunidade de vinculação.  


    Métodos

    Instrumento de avaliação/diagnóstico situacional (censo)

    A partir do mapeamento geográfico dos serviços de CTA enviado pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), do MS, será elaborado, em conjunto com a equipe do DCCI, um roteiro de avaliação/diagnóstico situacional desses serviços. As seguintes etapas deverão estar descritas:

  • Territorialização: descrição de localização do serviço e sua integração na RAS, especificamente com serviços de atenção primária. Avaliação da presença contínua ou transitória de populações-chave em situação de vulnerabilidade pertencente ao território de abrangência da oferta de serviços do CTA;
  • Capacidade instalada: número de profissionais, categorias profissionais, carga horária desenvolvida, horário de funcionamento, descrição física da Unidade de Saúde, informatização e sistemas utilizados, número e tipo de atendimentos realizados por mês;
  • Carteira de serviços: descrição detalhada dos serviços ofertados, atividades realizadas, perfil da população atendida, tipo de agravo atendido. Levantamento de todas as atividades de diagnóstico de HIV, HV, sífilis, demais IST e tuberculose que podem ser desempenhadas pelo CTA para compor o questionário de levantamento do diagnóstico situacional;
  • Incorporação de elementos ao diagnóstico: elementos que ajudem a estruturar a cooperação horizontal e definir quais territórios e serviços estão mais bem estruturados, assim como quais são os que têm maior demanda ou prioridade de incorporação de novas tecnologias e ofertas;
  • Elaboração de Relatório Final do Diagnóstico Situacional.
  • Capacitação Em relação às capacitações, será feito um planejamento do conteúdo abordando as questões relacionadas ao diagnóstico dos agravos citados e alinhados com as diretrizes e pressupostos do Ministério da Saúde expressos na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Dentre os possíveis temas destacam-se: atividades de capacitação para os trabalhadores de saúde e gestores, com foco na melhoria do acesso e acolhimento das populações-chave e prioritárias, gestão clínica de casos, vigilância em saúde e organização da rede de serviços.

    Visitas presenciais

    Ocorrerão visitas presenciais em 14 CTA, indicados pelo DCCI/MS, com os seguintes objetivos: integração de atividades preventivas, assistenciais e de educação em saúde; oferta de diferentes tipos de testagem para os agravos de interesse; fortalecimento do papel  estratégico do CTA no acesso das populações chave e prioritárias; execução de diagnóstico oportuno e, nos casos positivos, realização do primeiro atendimento com posterior vinculação da pessoa a outro serviço de saúde da RAS; ampliação do escopo de tratamento para as ISTs; estímulo a prescrição de PEP e PrEP; fortalecimento de ações de imunização com destaque para hepatite B e HPV, além do calendário vacinal previsto para PVHA; incentivo às ações extramuros através do trabalho de campo dos educadores de pares com as populações chave e prioritárias; integração entre a Atenção Primária em Saúde através da ferramenta de apoio matricial e, por fim, incorporação do cuidado integral relacionado à tuberculose.

    Fortalecimento da Vigilância em Saúde nos CTA

    Para a qualificação e fortalecimento dos processos de vigilância em saúde nesses serviços, haverá o levantamento de todos os sistemas de informação (federal, estadual e municipal) que sejam de interesse para o CTA, com disponibilização de acesso desses sistemas para os trabalhadores e planejamento de capacitação para sua utilização.

    Ampliação de oferta e acesso a testes rápidos

    Com o intuito de avaliar a tecnologia de testes moleculares rápidos na resolubilidade dos serviços, estão previstas:

  • Implantação de testes moleculares rápidos (GeneXpert - Cepheid), em pelo menos 1508 CTA, para detecção de clamídia e gonococo em pacientes sintomáticos e assintomáticos, considerando amostras do trato genitais urogenital e extragenitais (orofaringe e anal), visando a avaliação da implementação da abordagem etiológica para o manejo das infecções sexualmente transmissíveis (IST). 
  • Com relação a ampliação do acesso a testes diagnósticos para HIV, as propostas do Ministério de Saúde junto a esse projeto do PROADI-SUS são:

  • Estimular a oferta de autoteste, principalmente para as populações-chave, parcerias de pessoas em PrEP ou de PVHA. As atividades extramuros também podem ser importante estratégia para essa ação, facilitando o contato do CTA com populações mais vulneráveis que geralmente não frequentam os serviços de saúde;
  • Implantação de testes rápidos de quarta geração para HIV para a testagem de todas as pessoas que acessarem o serviço com a demanda da testagem para diagnóstico da infecção pelo HIV em, no mínimo, 4 (quatro) CTA e realização de testes rápidos de terceira geração simultaneamente, para avaliação da contribuição destes testes na diminuição do período de janela imunológica na testagem de populações-chave.
  • Importante mencionar que a ampliação das testagens fortalecerá o cuidado integral com o encaminhamento dos casos positivos para serviços de saúde inseridos na RAS.

     


    Resultados

    Principais Resultados:

    1. Diagnóstico situacional de 535 CTA em âmbito nacional (taxa de resposta: 70% dos CTA existentes):

  • >90% dos CTA possuem articulação com a Atenção Primária e Rede Especializada em HIV/IST/Hepatites virais.
  • 99% dos CTA disponibilizam testagem para HIV, Hepatites virais e Sífilis;
  • Público mais atendido:19 e 29 anos, ensino médio. A população gays/HSH é a segunda mais atendida, mas as outras populações-chave ocupam posições intermediárias;
  • 71% dos CTA iniciam prescrição de terapia antiretroviral para HIV; 50% para tratamento de hepatites B e C; 62% para sífilis e 43% realizam tratamento para tuberculose.
  •  

    2. Reestruturação de 14 CTA

  • (AM:Tefé/Coari, GO:Goiânia, MT:Cuiabá, PA:Belém, PE:Caruaru, BA:Salvador, MA:Pinheiro, MG:Uberlândia/Barbacena, RJ:São Gonçalo, PR:Guarapuava, SC:Concórdia e RS:Canoas) com construção de planos de ação baseados na ampliação da carteira de serviço mínima e ampliada da prevenção combinada preconizada pelo Ministério da Saúde (Dathi/SVSA/MS), com 572 pessoas envolvidas (trabalhadores e gestores).
  •  

    3. Capacitação de 354 profissionais/gestores nos 14 CTA.

  • Principais temas: HIV, hepatites B e C, sífilis, tuberculose, estigma/discriminação/diversidade sexual e gestão em saúde.
  •  

    4. Implantação-piloto de teste rápido de 4° geração para HIV em 4 CTA e teste rápido de biologia molecular (point of care testing) para clamídia/gonococo em 7 CTA.

     

    Conclusão: Os CTA têm avançado na ampliação de ações de intervenções biomédicas da prevenção combinada como a profilaxia pré e pós-exposição, mas com desafios para o início do tratamento de pessoas com diagnóstico de hepatites virais e tratamento etiológico para algumas IST (por exemplo corrimentos uretrais). O perfil do público atendido contempla parcialmente as populações-chave e prioritárias.  A integração com a Atenção Primária precisa ser fortalecida para que a oferta dos exames diagnósticos incorporada por toda a rede, assim como o compartilhamento do cuidado entre esses dois serviços.

    Clique no link e saiba mais sobre o Cuida CTA: Rede de Prevenção e Cuidado Integral de Doenças de Condiçoes Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis.


    Equipe

    • Hospital Israelita Albert Einstein

      Liderança

      João Renato Rebello Pinho - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP


      Equipe

      Aurileda Oliveira Sampaio - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Bruna De Oliveira Silva - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Caroline Thomaz Panico - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Cesar Augusto Inoue - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Denize Ornelas Pereira Salvador de Oliveira - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Isis Aleixo Barone Esquiçati - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Layze de Oliveira Castberg e Souza - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Maria Cecilia Araripe Sucupira - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Nathalia Villa dos Santos - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Raquel Queiroz de Araújo - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Roberta dos Santos Pereira - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Roberta Sitnik - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Sabrina Pugliese - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP

      Thais Sena de Paula Domingues - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP


      Colaboração

      Área Técnica

      Ministério da Saúde

      Secretaria de Vigilância em Saúde

      Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis 


    Indicadores

    565
    Quantidade de profissionais
    envolvidos em atividades de gestão
    370
    Profissionais
    capacitados

    Instituições

    • Barbacena

      cta sae
    • Belém

      centro de testagem e aconselhamento cta
    • Canoas

      cta centro de testagem e aconselhamento dst hiv aids canoas
    • Caruaru

      cta centro de testagem e aconselhamento
    • Coari

      instituto de medicina tropical de coari
    • Concórdia

      unidade sanitaria central
    • Goiânia

      centro de referencia em diagnostico e terapeutica
    • Guarapuava

      sae servico de atendimento especializado
    • Pinheiro

      centro de testagem e aconselhamento
    • Salvador

      cedap centro est especializado em diag assist e pesquisa
    • São Gonçalo

      policlinica goncalense ref doencas cronicas e transmissiveis
    • São Paulo

      hospital israelita albert einstein
    • Tefé

      centro de testagem e aconselhamento cta tefe
    • Uberlândia

      ambulatorio herbert de souza

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