Enquanto a maioria das crianças de 8 anos esperava ganhar carrinhos de corrida, robôs ou bonecos de super-herói, o mineiro Gladson Garcia não via a hora de receber um coração de presente no Natal passado. No final de 2021, há poucos dias da data comemorativa, o menino enfim teve seu pedido realizado e passou por um transplante cardíaco. A cirurgia foi realizada graças a um projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) em parceria com o Ministério da Saúde, conduzido pelo Hospital Israelita Albert Einstein, uma das seis instituições de excelência que compõem o programa. Foi a primeira vez que este tipo de procedimento pediátrico foi realizado tanto pelo PROADI-SUS, como no Einstein.
Nascido prematuro após um abalo emocional passado por sua mãe, Ana Camila Silva, de 31 anos, durante a gravidez, desde muito cedo o garoto apresentou uma série de complicações de saúde. Com 2 anos de idade, Gladson foi diagnosticado com asma e internado por pneumonia bacteriana. Mesmo após a alta, problemas de saúde continuaram aparecendo, apesar do menino não apresentar grandes complicações até seus 8 anos de idade.
Em setembro de 2021, depois de apresentar fortes dores na barriga e cansaço, o garoto deu entrada em um hospital na região em que mora - São Mateus, Norte do Espírito Santo -, que o diagnosticou com miocardiopatia dilatada – condição na qual o coração apresenta um tamanho maior do que o comum para a idade, com perda progressiva da função do órgão. Com a possibilidade de seu filho sofrer um mal súbito a qualquer momento, Ana Camila exigiu a transferência do menino para o Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória, capital do estado.
Ao chegar na cidade, Gladson foi internado novamente e, dessa vez, em estado crítico, com apenas 25% do coração funcionando. Durante um mês internado, o garoto só se manteve vivo graças a cuidados em Unidade de Terapia Intensiva e uso de medicações para o coração, e sem apresentar melhoras, foi colocado na fila de transplantes do SUS. Foi com um pouco mais de um mês de espera que a criança deu entrada no Einstein, em São Paulo (SP), por meio do PROADI-SUS, para realizar o procedimento cirúrgico.
A espera pelo transplante
Após um forte resfriado, o menino desenvolveu uma pneumonia que o impossibilitou de continuar na fila de espera do transplante por duas semanas. Recuperado, Gladson voltou para a lista de espera no dia 10 de dezembro, e já no dia seguinte veio a notícia: “As enfermeiras disseram para o meu filho escrever uma cartinha para o Papai Noel, e foi o que ele fez. Na carta, ele pedia um coração novo e, na madrugada, o Dr. Gustavo, o médico que acompanhou todo o caso do Gladson no hospital, me ligou dando a melhor notícia da minha vida: conseguiram um coração para o meu filho”, relembra a mãe, emocionada.
A cirurgia, que aconteceu no dia 11 de dezembro, durou cerca de 6h e foi um sucesso: “Se eu pudesse estar na sala de cirurgia ao lado do meu filho, eu estaria. Foi o momento em que a vida do meu filho mudou, pois ele ganhou uma segunda chance. Sou muito grata a Deus e a todos os profissionais desse projeto maravilhoso que nos acolheram tão bem”, comenta a mãe.
Gladson teve alta hospitalar no dia 10 de janeiro, e aguarda com a mãe a liberação para voltar para sua cidade: “Ele já disse que antes de voltar quer conhecer o shopping, o zoológico. Mas, é só falar em brincar com os irmãos, que logo muda de ideia. É muito bom ver o sorriso no rosto dele de novo”.
Um futuro promissor para o SUS
De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO)1, 221 transplantes cardíacos foram realizados no país entre janeiro e setembro de 2021. Apesar de hoje ser bastante conhecido, o procedimento, principalmente o pediátrico, ainda conta com um número muito baixo de doações, como explica o Dr. Gustavo Foronda, médico cardiologista do Einstein responsável clínico pelo procedimento de Gladson. “O maior desafio que temos hoje no Brasil é a conscientização sobre a doação de órgãos. O fator emocional é muito impactante, principalmente em relação aos transplantes pediátricos, em que os pais são os responsáveis por aceitarem ou a doação”, diz.
O transplante cardíaco é tido como último recurso para o tratamento de cardiopatias avançadas, visto que a cirurgia é complexa e envolve uma série de riscos, como infecções e a possibilidade de rejeição do órgão pelo organismo de quem recebe. Apesar dos riscos, a maioria das operações são bem-sucedidas e, em alguns casos, crianças também podem receber órgãos de adultos como alternativa: “O coração de uma mulher adulta com peso menor a 60kg, por exemplo, pode ser compatível com uma criança entre 9 ou 10 anos, a depender de seu tamanho e, claro, de uma série de critérios de compatibilidade entre doador e receptor. Mesmo sendo duas filas distintas, o doador é o mesmo para adultos e crianças nesse caso”, esclarece o especialista.
A operação foi a primeira deste tipo a ser realizada pelo PROADI-SUS e possibilita o atendimento a outros casos como esse pelo sistema público de saúde. “Mostramos, cada vez mais, que esse tipo de procedimento pode e deve ser realizado no sistema público de saúde. A história de Gladson é a primeira e irá abrir portas para que muitas outras crianças, que antes não teriam a oportunidade de realizar um transplante, possam ser atendidas e curadas pelo SUS”, conclui Dr. Gustavo Foronda.
Quer saber mais sobre os projetos do PROADI que realizam transplantes pelo SUS? Então não deixe de conhecer o TransPlantar, iniciativa do PROADI-SUS conduzido pelo Hospital Sírio-Libanês, e o Transplantes, do Hospital Israelita Albert Einstein.
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