Alçada ao patamar de epidemia nacional desde 2016 é causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) mais comuns globalmente, com cerca de 6 milhões de novos casos por ano. Segundo um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016, havia mais de 660 mil casos de sífilis congênita no mundo, resultando em mais de 200 mil natimortos e mortes neonatais.
No Brasil, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram acumulados mais de 360 mil casos entre janeiro de 2018 e junho de 2020 - no entanto, há a suspeita de que novos registros tenham sido subnotificados devido à pandemia de Covid-19. Ainda segundo o levantamento, 16 capitais apresentaram taxa de detecção mais elevada que a nacional.
Porto Alegre (RS) ocupa a sexta posição, com 151,9 casos registrados a cada 100 mil habitantes, contra 72,8 a cada 100 mil em todo o país. Vitória (ES) é a líder do ranking. Já o Rio Grande do Sul é o segundo Estado com a taxa de detecção mais elevada da doença — atrás apenas de Santa Catarina. Os dados apontam que, no ano passado, o RS teve 5.284 casos de sífilis adquirida e 1.564 de sífilis congênita.
Projeto busca ampliar diagnóstico e sucesso do tratamento
Com o objetivo de identificar os principais fatores associados ao aumento das taxas de incidência de sífilis no Brasil e testar estratégias para ampliar o diagnóstico e o sucesso do tratamento, o Hospital Moinhos de Vento conduz, desde 2019, o projeto SIM, que utiliza uma unidade móvel para a realização de testes de sífilis, HIV e hepatites B e C em Porto Alegre - uma realização por meio do PROADI-SUS em parceria com o Ministério da Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde.
A expectativa é que o estudo aponte as principais lacunas existentes no diagnóstico, tratamento e monitoramento da sífilis, apontando propostas de controle da doença. As diferentes estratégias a serem testadas no projeto servirão como um piloto, especialmente em termos de logística e integração, mostrando a viabilidade de implementação destas estratégias em outros estados e municípios.
“Temos de testar formas novas de estimular a adesão ao tratamento. O uso de jogos de celular, por exemplo, é uma prática comum. Vamos tentar mobilizar os pacientes por meio dessa interação”, explica a coordenadora do Projeto SIM, Eliana Márcia Wendland, “A ideia é que o estudo aponte quais são as principais lacunas existentes no diagnóstico, tratamento e monitoramento, para que a possamos experimentar novas estratégias de controle”, ressalta.
Wendland ressalta que os pacientes com resultado positivo para sífilis serão divididos em três grupos de acompanhamento: por aplicativo de celular, por contato telefônico e pelo protocolo atual, que é a indicação do tratamento com orientação de retorno para novas doses de medicação e monitoramento nas unidades de saúde.
“A ideia é identificar a eficácia desses métodos, especialmente em termos de logística e integração, e avaliar a viabilidade de implementação em outros estados e municípios. Além das pessoas que serão incluídas na pesquisa, os pacientes com testes de HIV e hepatites positivo serão orientados a buscar o sistema de saúde com carta de encaminhamento e exames confirmatórios já realizados pelo projeto”, conclui.
Sobre a doença
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a sífilis conta com diferentes estágios de evolução e variados sintomas clínicos, entre eles, manifestações dermatológicas. Seu tratamento é simples e eficaz, por meio do uso de penicilina benzatina, que é administrada de acordo com o estágio clínico do paciente. Sua forma de prevenção é por meio do uso do preservativo masculino ou feminino durante a relação sexual e o exame de detecção pode ser feito gratuitamente na rede pública de saúde.
A doença pode ser classificada em três estágios, sendo que, no primeiro, costuma se apresentar como uma pequena ferida indolor no local de entrada da bactéria (pênis, vagina, colo uterino, ânus ou boca), que aparece alguns dias após o contágio e desaparece sozinha após poucas semanas. Se não tratada, a bactéria pode permanecer no organismo e evoluir para os estágios de sífilis secundária, quando ocorrem manchas, pápulas e outras lesões no corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés, além de febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas, ou então sífilis latente - fase assintomática, quando não aparece mais nenhum sinal ou sintoma.
Após o período de latência, que pode durar de dois a 40 anos, a doença evolui para a sífilis terciária, condição grave que leva à disfunção de vários órgãos e pode causar a morte do paciente, costumando apresentar lesões ulceradas na pele, além de complicações ósseas, cardiovasculares e neurológicas.
Além da sífilis adquirida, outra forma de manifestação dessa IST é a sífilis congênita, transmitida por via placentária da mãe para o filho. A condição provoca diferentes sintomas no recém-nascido, como: baixo peso ao nascer ou dificuldade de ganhar peso; sequelas neurológicas; inflamação articular; dores nos ossos; perda visual; audição reduzida ou surdez; entre outros. A doença comumente é responsável por abortos espontâneos, prematuridade e óbito neonatal.