As doenças cardiovasculares são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte no mundo, sendo que mais pessoas morrem por estas condições do que por qualquer outra causa. Dados de 2016 mostram que 17,9 milhões de pessoas morreram por estas doenças, representando 31% de todas as mortes em nível global. Ainda segundo a OMS, 85% das mortes ocorreram devido a ataques cardíacos e a Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e mais de três quartos dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda.
Visando diminuir os índices de mortalidade de pacientes acometidos por essas doenças, foi desenvolvido em 2015 o projeto do Ministério da Saúde “Apoio à Implementação das Boas Práticas na Atenção à Cardiologia e Urgências Cardiovasculares”, conduzido pelo Hcor e realizado por meio Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) em parceria o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS).
De acordo com Adriana Melo Teixeira, diretora do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e Urgência do Ministério da Saúde, a iniciativa atua estrategicamente na qualificação da gestão de manejo clínico compreendido pelas urgências, cardiovasculares e cardiologia, dividido em dois eixos com duração de 13 meses cada: pré-hospitalar, sendo realizado em 150 Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h) e em 15 hospitais de todas as regiões do Brasil. Ambos os eixos visam o apoio ao monitoramento da prática clínica em urgências cardiovasculares e a implementação de diretrizes assistenciais em síndrome coronariana aguda. No Triênio 2021-2023, o eixo Tele-ECG (eletrocardiograma) do projeto beneficiará UPA 24h da Rede de Atenção às Urgências. As instituições foram selecionadas de acordo com a localização a fim de cobrir os vazios assistenciais que existem no país.
"O Ministério da Saúde trabalha diariamente para qualificar e melhorar os serviços prestados pelo SUS. Tendo em vista que o Infarto Agudo do Miocárdio com supra de ST (IAM c/SST) é um forte indicador de óbitos no Brasil e visando diminuir esse risco, é de suma importância que as equipes das UPA 24h estejam treinadas e capacitadas para que possam rapidamente fechar um diagnóstico e encaminhar esse paciente ao hospital onde terá todo o suporte necessário para sua recuperação. O apoio à implantação da Linha de Atenção em Urgências Cardiovasculares visa garantir que o paciente com Infarto Agudo do Miocárdio com supra de ST (IAM c/SST) receba a terapia de reperfusão em tempo adequado, com acesso à terapia intensiva e ao tratamento e estratificação complementares à reperfusão", diz.
Benefícios ao SUS
A diretora afirma, ainda, que o projeto impacta diretamente na estruturação do SUS e nos pacientes atendidos, o que será refletido através da adesão ao tratamento de Infarto Agudo do Miocárdio preconizado pelas principais diretrizes e melhora nos tempos de atendimento inicial, mensurados por três indicadores. São eles: porta-ECG, momento de chegada do paciente à UPA até a realização do eletrocardiograma; porta-agulha, tempo de chegada do paciente até o recebimento do trombolítico; e o porta-balão, tempo de chegada do paciente até a realização da angioplastia. “Todos esses tempos são estabelecidos nas diretrizes nacionais e internacionais de Cardiologia, comprovando que, quanto menor o tempo, melhor o prognóstico do paciente ", afirma.
Além do acompanhamento para compreender a situação de cada unidade, serão feitas reuniões mensais com relatórios para as UPA e Hospitais e seus respectivos gestores, Sessões de Aprendizagem Virtual por meio de aulas online ao vivo sobre infarto agudo do miocárdio, parada cardiorrespiratória, forma de conduzir casos de AVC, interpretação do eletrocardiograma além de diagnóstico e condução dos casos de arritmias complexas. Participam das capacitações todos os profissionais envolvidos no atendimento ao paciente com doenças cardiovasculares, como médicos, enfermeiros e fisioterapeutas.
Camila Rocon, líder do projeto e cardiologista do Hcor, explica que o Infarto agudo do Miocárdico pode estar relacionado à Insuficiência cardíaca, aparecimento de arritmias e AVC, o que aumenta as chances de internação e risco de morte. “Atender precocemente esses pacientes resulta em melhores resultados, menor morbidade e menor mortalidade para esses pacientes. Tempo é músculo, se diz na cardiologia. A área que deixa de ser irrigada no coração pode morrer e, se não for abordada precocemente, aquela área não volta a funcionar e o paciente poderá ter muitas complicações”, diz.
Com isso, hospitais e UPA 24h do SUS ganham em termos de redução de internação, morbidade, mortalidade, e até mesmo custos. “Falamos da abordagem de uma das doenças que mais afetam a população, que mais diminuem a qualidade de vida e a perspectiva de vida desses pacientes. O nosso objetivo é que o paciente seja tratado da melhor forma no intuito de prevenir novos eventos, prevenir que ele fique incapaz, prevenir internações, prevenir gastos absurdos com medicamentos e internações, exercendo assim a medicina da melhor forma", conclui Camila.