Protagonismo Feminino no Proadi-SUS | Conheça a trajetória das mulheres que lideram o Programa

Protagonismo Feminino no Proadi-SUS | Conheça a trajetória das mulheres que lideram o Programa Protagonismo Feminino no Proadi-SUS | Conheça a trajetória das mulheres que lideram o Programa

Ana Paula Pinho é representante dos hospitais do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) e diretora-executiva de Responsabilidade Social do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC). 

Doutoranda em Saúde Internacional pela Universidade Nova Lisboa e Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), Ana Paula é formada em Serviço Social  pela Universidade Católica do Salvador (UCSal), com especializações nas áreas de Medicina Social, com ênfase em Estratégia de Saúde da Família pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA); em Gestão da Atenção à Saúde pela Fundação Dom Cabral (FDC) e Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês; e em Facilitação em Metodologias Ativas de Ensino e Aprendizagem pelo IEP/ Sírio-Libanês. Tem experiência nas áreas de Gestão Hospitalar, Gestão de Projetos e Gestão de Organizações Sociais em Saúde, Docência em Graduação e Pós-Graduação. 

1. Quais foram os principais desafios que você encarou na sua trajetória profissional até ocupar a liderança de um programa como o PROADI-SUS e de um hospital como HAOC? 

Nasci no interior da Bahia, em Candila (BA) – uma cidade bem pequena, com cerca de 800 km distante de Salvador. Sem condições financeiras na época, assim como muitos nordestinos, estudei em escolas públicas durante todo o ensino fundamental e, como na minha cidade só seria possível se “formar professora” sem outras perspectivas após a conclusão do ensino médio, com 14 anos fui estudar na capital, onde concluí os meus estudos e prestei vestibular. Durante o processo de graduação e especialização, os problemas financeiros perduraram, mas, por meio de crédito educativo e com a ajuda de minha irmã, me formei em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (UCSal). 

Após finalizar especializações nas áreas de Medicina Social com ênfase em Estratégia de Saúde da Família pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), uma paixão me fez mudar para São Paulo: passei na seleção da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO) para ser consultora no programa de AIDS do município de São Paulo. Além disso, atuei em algumas áreas da Secretaria da Saúde do Estado e na Atenção Básica no Ministério da Saúde visando fazer a diferença na vida das pessoas. 

Assim como milhões de mulheres, muitas inquietações vieram à tona após virar mãe e teria que enfrentar ainda mais desafios. Já com mestrado, MBAs, formação em metodologias ativas de ensino e aprendizagem, teria que encontrar uma forma de conciliar os meus papéis, de mãe e de gestora na área da saúde. 

Nesse contexto, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz teve um papel fundamental, pois me proporcionou diversos desafios – contribuir para a implantação de parcerias público-privada sérias e consistentes – e a possibilidade de conciliar tudo isso com a maternidade, além de poder trabalhar na minha tese de doutorado em Portugal voltada para tangibilizar as coberturas universais de saúde no mundo. 

2. Esta é a primeira vez que o PROADI-SUS tem sua representação 100% feminina. Na sua visão, quais são os pontos fortes que isso traz ao Programa? 

As mulheres na área da saúde, muito mais que outras profissões, são maioria nas áreas assistenciais, na promoção da saúde e prevenção de doenças. Contudo, muitas vezes as grandes lideranças são feitas por homens. O Ministério da Saúde é um exemplo emblemático – nenhuma mulher chegou a ocupar o cargo no Brasil. Por isso, é um marco importante quando o PROADI-SUS tem a possibilidade de ter uma liderança 100% feminina, que possa trazer essa sensibilidade ao cargo de gestão, esse olhar mais aguçado, que contribui de forma empática para algumas nuances do programa no Brasil. A mulher ainda enfrenta desigualdades, falta de equidade e disparidades regionais que ainda precisam ser trabalhadas para trazer esse equilíbrio. A liderança feminina se destaca, dentre outras qualidades, pelo ato de “cuidar” – enxergar os pacientes e suas famílias com empatia, humanizando cada vez mais a área da saúde, desde à gestão, ao atendimento nas enfermarias. 

3. Como organizar seu dia a dia para conciliar a gestão do hospital, liderança do PROADI-SUS, maternidade e doutorado em outro país?

Para lidar com esses diferentes papéis que tenho que desenvolver, tive que amadurecer ao longo da minha trajetória e ter consciência da importância de cada um deles, com clareza de que essas expectativas não são definitivas. Ou seja, não vou definir hoje as minhas necessidades e o meu papel de mãe de forma rígida e faço isso mantendo as necessidades de cada área da minha vida em constante análise, sempre adequando a dedicação de tempo à minha rotina. Esse passo parece óbvio, mas é fundamental e necessário para quebrar algumas barreiras e me trouxe um alívio muito grande. Em alguns momentos serei mais mãe e, em outros, será necessário investir meu tempo na minha vida profissional. Para isso, reflito e planejo uma semana por vez, alinhando as expectativas dos meus filhos. A rede de apoio tem um papel fundamental nesse contexto – o meu marido cumpre o papel dele e, com isso, conseguimos nos organizar melhor. Acredito que, como toda mãe, isso não significa que seja tranquilo ou às vezes a culpa não me atinja. Entretanto, à medida que as atividades se acumulam, temos que ser vigilantes para que esses sentimentos não nos deixem impotente. 

4. Além de todas as funções citadas, há mais algum projeto em que esteja envolvida? Se sim, em qual área é, qual é a sua atuação e como ele está inserido no seu dia a dia?

Além das ações já citadas, outro projeto que eu também desempenho com muito orgulho é como diretora presidente do Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Tenho certeza de que a liderança feminina foi muito importante para que pudéssemos alavancar os resultados do instituto e, principalmente, na maternidade do complexo hospitalar dos estivadores. É em momentos como esse que é importante repensar, a partir da ótica da mulher, implementar ações como esta, que significaram a menor taxa de mortalidade infantil na cidade de Santos, localizada no litoral Sul de São Paulo. Esse resultado é consequência desse olhar e, obviamente, da atuação de uma equipe muito engajada no processo. 

 



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