Considerado a doença que mais incapacita as pessoas no Brasil, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) foi a primeira causa de morte por mais de 30 anos, perdendo, hoje, apenas para o infarto. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, por ano, sejam acometidas 13 milhões de pessoas em todo o mundo. Para se ter uma ideia da gravidade, cerca de dois milhões de neurônios morrem a cada minuto em que o vaso sanguíneo cerebral está fechado, o que pode causar sequelas graves e incapacitantes, como demência, paralisias em partes do corpo, problemas de visão, memória e fala.
Diante deste cenário, o PROADI-SUS executa, em parceria com o Ministério da Saúde, quatro projetos voltados a auxiliar unidades de saúde públicas e filantrópicas no desenvolvimento de práticas de prevenção e tratamento de casos de AVC. São eles: Resilient TNK, que estuda novos tratamentos para AVC isquêmico agudo; Promote AVC, que avalia se a combinação de medicamentos para controle de pressão e colesterol reduz casos de AVC e demência; TRIDENT, pesquisa internacional coordenada pelo The George Institute for Global Health, na Austrália, sobre prevenção secundária de AVC hemorrágico; e o Estudo Optimal AVC, que avalia se manter a pressão arterial sistólica abaixo de 120 mmHg em pacientes hipertensos com histórico de AVC reduz o número de eventos cardiovasculares.
Os três primeiros projetos são conduzidos pelo Hospital Moinhos de Vento, e, os demais, pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Clique sobre os nomes para saber mais sobre cada um.
Prevenção evita até 90% dos casos de AVC
A chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, Sheila Martins, explica que o AVC é uma alteração súbita da circulação cerebral que pode ocorrer de duas formas: ou rompe um vaso sanguíneo cerebral espalhando sangue pelo cérebro, o chamado AVC Hemorrágico - que corresponde de 10% a 15% dos casos -; ou ocorre uma obstrução de um vaso sanguíneo cerebral e falta sangue numa região do cérebro, chamado AVC Isquêmico - que é o tipo mais comum, com tratamento possível se o paciente chegar rapidamente ao hospital.
Considerado o maior fator de incapacidade no mundo, é a segunda causa de mortalidade no Brasil, onde são registrados cerca de 400 mil casos por ano - destes, 80% são atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar das estatísticas, a especialista afirma que a doença é altamente prevenível, podendo-se evitar até 90% dos casos.
"Uma em cada quatro pessoas no mundo terá um AVC. A boa notícia é que 90% dos casos podem ser prevenidos se atuarmos em dez fatores de risco fundamentais, como a pressão alta - considerada o principal fator; colesterol elevado; diabetes; fumo; fibrilação atrial (arritmia cardíaca que forma coágulos que podem obstruir a circulação cerebral); obesidade; sedentarismo; alimentação inadequada; abuso de bebidas alcoólicas; e depressão/estresse. Todos estes fatores implicam em uma mudança significativa no estilo de vida e é fundamental que a população tenha conhecimento disso, pois é uma doença que pode ser prevenida com medidas simples", explica. A Dra. Sheila reforça que o exercício é considerado um poderoso protetor contra o AVC: fazer 30 minutos de atividade física, cinco vezes por semana, reduz os riscos em quase 40%.
Tratamento imediato é fundamental
Ainda de acordo com a especialista, a cada minuto em que o vaso sanguíneo cerebral está fechado, cerca de dois milhões de neurônios morrem. Por isso, ressalta a importância de aprender a reconhecer os sinais, como perda de força ou dormência, geralmente em uma metade do corpo; dificuldade para falar ou compreender a fala; dificuldade de enxergar em um olho, nos dois olhos, ou numa metade do campo de visão; tontura, que se manifesta com uma sensação rotatória associada à falta de equilíbrio e de coordenação; e intensa dor de cabeça súbita.
"Com a presença de qualquer um desses fatores de risco, a chance maior é de que seja um AVC e o paciente precisa se direcionar imediatamente a um hospital. A recomendação é chamar o SAMU pelo número 192, ou baixar o aplicativo AVC Brasil, onde é possível, em qualquer lugar do país, reconhecer os centros especializados mais próximos ao usuário. Uma dica importante é que é melhor andar 30 quilômetros para chegar a um centro especializado do que se dirigir a uma unidade que não tenha o atendimento, já que o tratamento adequado diminui ou até evita sequelas, reduzindo também, a mortalidade", frisa. As sequelas podem ser leves e passageiras ou graves e incapacitantes. As mais frequentes são paralisias em partes do corpo e problemas de visão, memória e fala.
“Por fim, é preciso lembrar que, embora ainda seja um momento de mantermos o isolamento social devido à pandemia, o AVC não fica em casa. Essas pessoas precisam ser tratadas imediatamente, pois isso salva vidas e evita sequelas”, conclui.