Por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) e em parceria com o Ministério da Saúde, o Hospital Moinhos de Vento conduz o projeto TELEUTI, que promove qualificação da assistência em terapia intensiva pediátrica, adulto e neonatal por telemedicina. Na Paraíba e no Rio Grande do Norte, o Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) e o Hospital Pedro Bezerra, respectivamente, participam do projeto há nove meses e contam com o auxílio de um robô para receberem o apoio remoto nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Desde a implantação do projeto, o ineditismo da iniciativa promoveu uma queda significativa na mortalidade, que alcança 50% quando consideradas ambas unidades, ao mesmo tempo em que promoveu uma significativa mudança de cultura nas instituições.
Por meio de um equipamento controlado remotamente, o robô se desloca pela unidade, sendo utilizado para exibir os pacientes em imagens de alta definição e permitir a comunicação à longa distância entre os especialistas do Moinhos de Vento e das instituições atendidas. De acordo Marôla Flores da Cunha, médica neonatologista do projeto, diariamente as equipes reservam uma hora para o acompanhamento via telemedicina - cada paciente atendido na UTI Neonatal é monitorado e os são profissionais instruídos. Por meio do TELEUTI, os hospitais participantes contam com suporte de equipe multidisciplinar, como fisioterapeutas, enfermeiros, médicos especialistas e residentes fornecendo troca de expertise e apoio a cada caso.
"O teleround tem início com os profissionais locais dirigindo o robô pela UTI Neonatal, que é quando recebemos a informação clínica do paciente. Com isso, discutimos o caso para chegar a um diagnóstico, fornecemos recomendações de condutas assistenciais e promovemos a qualidade de atendimento aos bebês atendidos", explica. O Hospital Moinhos de Vento também coloca à disposição agendamentos com médicos especialistas para discussão de casos; disponibiliza protocolos clínicos efetivos e adaptados à cada instituição; seis videoaulas de capacitação aos profissionais; e discussões de casos com médicos especialistas.
Déficit de especialistas
“O Brasil sofre com a falta de especialistas em neonatologia e, muitas vezes, as UTI são conduzidas por médicos pediátricos que não têm essa especialização, por isso esse projeto é tão importante. Particularmente, considero a experiência mais gratificante de todas. Em 20 anos de formação, foi a mais bonita da minha vivência médica. É uma responsabilidade muito grande orientar os colegas sobre o que fazer, observar ao longo do período que as nossas orientações estão promovendo mudanças e estamos conseguindo construir uma parceria forte com as UTI remotas e isso traz resultados incríveis”, conclui Marôla.
A médica pediatra, coordenadora da UTI Neonatal do Hospital Moinhos de Vento, Desiree de Freitas V. Volkmer, afirma que este é um projeto que promove mudanças, pois “quando se trabalha com protocolos, rotinas e equipe multiprofissional, a evolução dos pacientes e nos resultados da unidade são claramente percebidos, isso aumenta o engajamento da equipe e a forma de atuar. A possibilidade de transformar tantas vidas fica evidente e passa a ser uma busca constante por mais qualidade e segurança no cuidado dos bebês e suas famílias. É um trabalho que envolve muito amor pela causa dos bebês. E, essa parceria público-privada tem sido motivo de muito orgulho na nossa trajetória profissional, pois compartilhar conhecimento e qualificar equipes, modificando cenários, tem extrema importância em um país continental como o nosso” ressalta a neonatologista.
Resultados
Tereza Raquel de Brito Filgueiras de Amorim é coordenadora da residência médica de neonatologia do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em Campina Grande (PB), e coordenava a UTI Neonatal da instituição. A médica relata que, devido à pandemia, o ISEA sofria com falta de pediatras e diaristas, e ainda lutava por concursos para a contratação dos profissionais quando o instituto aderiu ao TELEUTI, no final do ano passado.
"O projeto veio no momento ideal. Nos ajudou na normatização de condutas da UTI e, como temos residência em neonatologia, ajudou muito na formação dos residentes na discussão de casos. Percebemos que os residentes sentem mais segurança na rotina diária, agora que temos uma conduta unificada. Mesmo fora do horário, podemos contar com a equipe, temos uma troca de experiência e amparo. Isso tudo fica nítido quando conseguimos tirar da internação bebês menores de um quilo, quando percebemos uma maior sobrevida", diz.
Ainda de acordo com Tereza, a cada três meses o ISEA passa por avaliação para conferir os resultados atingidos. Em julho, ficou constatado que o instituto alcançou redução de aproximadamente 40% na mortalidade. “Tive que assumir a coordenação da UTI Neonatal junto com a coordenação da residência em um momento de falta de profissionais e condições difíceis de trabalho. Muito mais do que o apoio, senti o carinho da equipe do projeto por nós. Sempre fazem com muito amor, se interessam, têm amor por nossos pacientes e isso é muito importante. Espero que o TELEUTI se espalhe por muitos lugares e atinja todo o país para dar o mesmo suporte que tivemos”, conclui.
Já o Hospital Dr. José Pedro Bezerra, em Natal (RN), alcançou redução de aproximadamente 20% em mortalidade desde a adesão ao projeto. De acordo com Tânia Eda da Costa Maruoca, uma das coordenadoras da UTI neonatal da instituição, a adoção dos protocolos propostos permitiu a diminuição no tempo de permanência em ventilação, bem como no tempo de internação mesmo com a pandemia do novo coronavírus.
“Foi muito impactante, no primeiro momento, pois trocamos experiência em tempo real com os profissionais do Hospital Moinhos de Vento, que é de primeira linha e tem um quadro de especialistas muito capacitados. A equipe nos disponibiliza tecnologias que a gente não dispõe em nosso serviço, mas que consegue adaptar com o auxílio que nos disponibilizam. Se temos uma criança com quadro clínico difícil e eles têm especialista, convocam aquele profissional e a gente discute o caso beira-leito, o que tem sido muito importante na questão de radiologia, que tem gerado ótimas discussões sobre cuidados paliativos”, afirma.
Sobre o projeto TELEUTI
Iniciado em novembro de 2018, o projeto, que utiliza a telemedicina para promover a educação à distância e discussão de casos clínicos, visando a sistematização do atendimento em UTIs de todo o Brasil, já capacitou mais de mil profissionais por meio de 53 encontros em atividades educacionais. Entre UTI pediátrica, neonatal e adulto, foram atendidos um total de 11.925 pacientes; realizados 1.899 rounds; 84% das recomendações foram aceitas; e mais de 1.040 profissionais de saúde foram capacitados. Para saber mais, acesse: https://hospitais.proadi-sus.org.br/projetos/71/teleutip.